As manchetes da semana foram sobre a tragédia de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Alessandra Valle esteve na linha de frente, ajudando na busca por desaparecidos e sua reflexão dessa semana é sobre as famílias que perderam os entes queridos, sem a chance de sepultá-los. Joana Pereira esconde esqueletos em seu armário? E a COVID-19, continua amedrontando Rick Soares? Ainda temos Arléte Creazzo, Laíse Leão e Joana Rita com seus textos e reflexões. E uma nova colunista estreante: Simone Gonçalves que, para seu primeiro texto vem defender a Independência Feminina. Enfim, muitos autores com muitas reflexões. Junte-se a nós! Você é sempre bem-vindo.
Leia, Reflita, Comente!
BONS MOMENTOS
por Arléte Creazzo
IG: @arletecreazzo
Todos sabemos que a vida é feita de momentos, sejam tristes ou alegres.
São os momentos que constroem a nossa história.
Podemos sempre lembrar-nos quando conquistamos nosso primeiro emprego, o primeiro filho, nosso casamento ou a viagem com a qual sonhamos tanto. Grandes momentos que tivemos.
E os pequenos bons momentos? Aqueles que trouxeram ao nosso rosto um sorriso despercebido?
Um momento em família, que nos traz a felicidade simplesmente por estarmos juntos e bem.
A gargalhada de uma criança, o sabor indescritível de um sorvete.
Tantos pequenos momentos que, muitas vezes, passam despercebidos.
Gosto de me alegrar com pouco, já que com o muito é fácil.
Isso não significa que não goste de momentos grandes, apenas que gosto de valorizar o que tenho, no momento em que acontece.
As coisas simples como um banho de mangueira, comer fruta no pé, um abraço apertado, podem ter a mesma importância do que uma viagem a Paris.
Exagero? Acredito que não.
Não é necessário que o momento seja grandioso.
Grandioso deve ser o nosso sentimento pelo que o momento nos traz.
MEDUSA
por Laíse Leão
Medusa
Sem visão,
Sem futuro,
Presa em cima de um muro.
Mulher
Forte,
Tenta ser
Carinhosa.
O que se passa?
Você
Vê
Na praça.
A brasa,
O fogo,
Queima
Na chama do saber.
Sou inteligência,
Numa curva
Direta
Um caco lhe acerta.
Poesia
Sublime,
Por isso
Suplico.
Mulher,
Me ensine
A ser,
Antes que te tornes um ser aflito.
TRAGÉDIA ANUNCIADA
por Luiz Primati
IG: @luizprimati
Todo começo de ano é assim. Basta iniciar o período de chuvas e desmoronamentos, enxurradas são os vilões dos menos favorecidos. Casas desabam, pessoas são arrastadas pela força da água, em minutos a vida vai para baixo da terra. E o que fazer para evitar novos desastres?
Infelizmente nada a se fazer. Sempre que algo do tipo ocorre, todos se mobilizam e a região afetada é acometida por uma legião de ajuda humanitária. Os governos federal, estadual e municipal se unem para confortar as famílias. Bombeiros, polícia, civis se esforçam ao máximo para encontrar os desaparecidos. E depois? Promessas são feitas, famílias são removidas das áreas de risco e naquela região nada tão grave se repetirá. Será?
E no ano seguinte, outra cidade, ou região, sofre o mesmo destino.
E por que isso acontece? Devido à pobreza, falta de moradia. Pessoas que se amontoam nos morros, juntando tijolos, madeiras e todo o tipo de material que encontram, construindo as suas casas e barracos da maneira que conseguem.
Esse ano o destaque foi para Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Uma barreira rompeu, devido às chuvas, e a lama desceu morro abaixo, destruindo casas, soterrando vidas, formando rios pelas ruas. A força da água arrastou pessoas, carros, ônibus e tudo que encontrou pelo caminho. A água suja afogou as pessoas, escondeu outras, calou vozes. O mar de lama manchou a cidade de marrom.
Ainda hoje a busca por desaparecidos é intensa e dentro de 15 dias tudo deve parar, pois, a chance de encontrar uma pessoa viva será muito rara.
E não é a primeira vez que isso acontece nessa região. Em 2011 a cidade de Petrópolis teve um prejuízo de mais de 500 milhões de reais pelo mesmo motivo: chuvas torrenciais.
Temo que isso nunca irá acabar. Todo ano o desastre se repetirá, alternando as regiões, os estados e as cidades. Quem poderá ajudar-nos? Deus? Não basta ter fé em Deus e continuar vivendo nas áreas de risco. Se as pessoas não tomarem uma atitude e não se mudarem, estarão fadadas a serem protagonistas das próximas tragédias.
ESQUELETOS EM MIM
por Joana Pereira IG: @temjuizo_joana
Tenho esqueletos, esqueletos desenhados num armário cheio de ossos.
Tenho aparições que me amolam, escondidas no âmago das aflições.
Das mortes de mim, tantos mins nascem, de ciclos em ciclos, avanços e recuos, onde se apaga e se faz luz. Por etapas se percorrem todos os espectros do que já fui. Deixo uns no passado, permito a outros que se me aferrem nos ossos e encarnem o meu esqueleto.
Das almas pobres, desnutridas do que é o alimento, eu guardo-lhes os esqueletos para o meu próprio fomento.
Amarro-me nas memórias, do que outrora foram em vida, sou parte dessa narração por tantos esqueletos vivida.
Embalo na angústia, o desprazer que lhes vislumbro, são esqueletos que desenho num armário e a saudade é cravejada nos ossos dessa não-existência.
TODOS TEM DIREITO DE SEPULTAREM SEUS AMORES
por Alessandra Valle
Após o terceiro dia de trabalho incessante para cadastrar e divulgar os dados mais corretos possíveis das centenas de desaparecidos advindos da chuva intensa que atingiu o Município de Petrópolis no último 15 de fevereiro, a companhia da minha escrita pode me ajudar no equilíbrio interno e nas reflexões pertinentes ao blog.
Como não me autoconhecer a partir da dor, da angústia e da tristeza dos outros?
Famílias inteiras voltaram à pátria espiritual de forma violenta e se você leitor não se compadece com esse tipo de expiação terrena, situação de desencarne coletivo, talvez esteja com sua consciência adormecida e se encaixe perfeitamente nesse tipo de ensinamento do Mestre Jesus.
Uma grande multidão estava em torno de Jesus e alguns que o acompanham se aproximaram para falar com o Mestre.
Um aprendiz, com grande vontade de Lhe seguir, disse:
— Senhor, permite-me que primeiramente vá sepultar meu pai.
Jesus, porém, disse-lhe:
— Segue-me, e deixa os mortos o cuidado de sepultar os seus mortos.
À primeira vista, se apegados à letra, este ensinamento do Mestre vai de encontro à razão e ao sentimento de caridade ao dar bênção na sepultura ao corpo de alguém que morreu.
Jesus não desperdiçou palavras, mas sim semeou exemplos de amor, por isso, jamais podemos olvidar do dever de piedade filial em ir sepultar seu pai.
As palavras de Jesus se referem aos “mortos de espírito”, aqueles que não despertaram para a necessidade de evoluírem moralmente.
Os mortos que sepultam mortos são aqueles que mantêm a consciência adormecida e estão aprisionados às ilusões da matéria. São os que perambulam na sombra da morte sem estarem mortos.
Inúmeros são os questionamentos que me faço neste período de intensas emoções, despedidas angustiadas e desencontros muito tristes, os quais compartilho alguns:
Como atender ao chamado do Mestre e desapegar das ilusões da matéria? Como despertar a consciência para o bem e me melhorar?
Não tenho, ainda, essas respostas. Os questionamentos serão objetos de muita reflexão daqui para frente nesta existência.
Por hora, me cabe a singela e compassiva ajuda como Policial Civil do Estado do Rio de Janeiro, com mais de 12 anos no enfrentamento e prevenção ao desaparecimento de pessoas, aos familiares e amigos das vítimas dos desastres que ocorreram durante a chuva em fevereiro deste ano, em Petrópolis, pois todos tem o direito de sepultarem seus amores.
Meus sentimentos a cada uma das famílias envolvidas nesse cenário triste e angustiante que é o desaparecimento.
O trabalho deve e necessita continuar.
Fontes de consulta:
Evangelho de Mateus 8:21, 22
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, 7
DEUS ME LIVRE DE ENTRAR
por Rick Soares
IG: @rick.so.ares
Passei novamente naquela rua aqui perto de casa. Estava voltando do parque urbano que fica a 1,7 quilômetros de onde moro. Fui e vim caminhando, sempre utilizando a máscara que havia escolhido para a caminhada, além dos devidos cuidados tomados como o distanciamento social e com a higiene pessoal. Nesses tempos de pandemia não podemos nos descuidar. Apesar de não estarmos mais em estado de lockdown e as medidas restritivas impostas pelo governo terem sido amenizadas, devemos ter a consciência de que o vírus ainda não foi embora. Devemos assumir nossa responsabilidade diante deste fato.
Nessa rua funciona uma igreja evangélica, não apenas uma, e não só evangélica, funcionam várias igrejas. Falo dessa por chamar mais a minha atenção pelo fato de que estava tão cheia de membros e em tão pouco espaço. Uns cinquenta ou sessenta metros quadrados no máximo, ou seja, sem o devido distanciamento social necessário para diminuir os riscos de contaminação pelo vírus da Covid-19. Homens, mulheres, crianças, idosos... Acredite! A maioria deles sem máscaras. Cadeira para sentar não havia mais e ainda que houvesse não caberia na igreja, pois o único espaço que conseguia avistar de onde eu estava, era o corredor que unia a entrada da igreja ao púlpito. Havia pessoas também na frente da igreja, bem na calçada que ficava a dois metros, no máximo, da avenida.
Passar em frente à igreja é rota para que eu chegasse em casa, pois do outro lado da avenida há uma escadaria a qual preciso subir. Nesse dia fiquei ao pé da escadaria observando esta cena enquanto trocava mensagens no WhatsApp. Na verdade, estava curioso para saber se, como líder, o pastor daquela igreja chamaria a atenção do seu rebanho. Eu tive essa esperança porque não é possível que um líder moral, social ou religioso feche os olhos diante de sua responsabilidade para com a sociedade. Apesar de ter tocando no assunto, não ouvi, ao menos enquanto estava atento, orientações acerca das medidas de proteção contra a disseminação do vírus.
Estava próximo de finalizar o culto quando um dos membros, que estava do lado de fora da igreja e que ocasionalmente acabávamos trocando olhares, atravessou a avenida e veio até onde eu estava. Eu estava com o celular na mão, bloqueei a tela e fiquei a postos, pois, percebi que ele vinha falar comigo.
— Boa noite, varão! — Dirigiu-se a mim.
— Boa noite, irmão! — Cumprimentei-o.
— Posso te fazer um convite para entrar e observar o final do culto lá dentro? — Acredito que por ele perceber algumas vezes eu olhando para a igreja, talvez deva ter pensado que eu queria entrar, mas estava com vergonha. Apesar dele não estar usando a máscara, achei uma atitude até acolhedora.
— Irmão, até agradeço o convite, mas do jeito que está ali dentro, todo mundo sem máscara numa situação dessas... Deus me livre de entrar!
OH MENINA DE AMOR FRACO
por Joana Rita Cruz
IG: @joanarc_poetisa
Oh menina apaixonada,
de cabeça na lua
vagueando que nem alma penada
numa reflexão tão tua.
Pedem-te uma mãozinha
e vai o corpo todo
dão te uma dose levezinha
de amor, é tão pouco.
Oh menina ingénua,
vais ficar a ver navios
pois a ligação é tão semi lua
que as marés nem movem os rios.
Apaixona-te pelo mar,
contempla a lua
sente o luar
não laves a roupa suja.
Oh menina merecedora
de universos de amor,
vão te pôr o dedo na ferida
e ficarão cicatrizes de amor.
A reflexão do sol
ensina-te a amar
lança o anzol
e um príncipe há de te pescar
Oh menina, larga esse amor rasteiro
tira o cavalinho da chuva
conquista um cavalheiro
que faça de seu casaco teu guarda-chuva.
De mãos dadas com o amor-próprio
canta esse amor certeiro
professa no consórcio
essa cabeça na lua, coração no peito
Oh mulher
ama correto
ama-te primeiro
dá o teu coração
somente a um cavalheiro
a um montado em cavalo branco
mas ama-te primeiro!
INDEPENDÊNCIA FEMININA
por Simone Gonçalves
IG: @apoetizar_se
Ser independente nos dias de hoje,
Exige muito sim!
Exige atitude, esperteza,
Ao mesmo tempo serenidade e delicadeza.
Exige bravura, ter pulso firme,
Mas também pode ser calmaria e se ter algumas recaídas...
Afinal, somos mulheres humanas,
Que a cada dia nascemos para o novo.
Exige olhar pra cima,
Tomar decisões,
Vencer um leão por dia.
E mesmo assim conseguimos manter a postura de dama, de menina
Aquela que independente da batalha da vida,
Está pronta para o recomeço,
Para amar, quantas vezes puder, quiser...
Somos mulheres independentes
Podemos ser sozinhas
Mas sempre vamos desejar um olhar atrevido, um colo caloroso...
Afinal, independência de escolher o que pode ser melhor para nós
Pode ser também a preparação para se viver
Uma grande história de amor
Quantas vezes for...
CHARGE
NOSSOS COLUNISTAS
Da esquerda para a direita: Arléte Creazzo, Alessandra Valle, Laíse Leão. Depois Luiz Primati, Joana Pereira e Rick Soares. Nossos últimos colunistas: Joana Rita Cruz e Simone Gonçalves.
Mais uma bela produção de todos os colunistas do Caderno Reflexões N8! Tristezas, Mortes, realidades e buscas por uma vida de mais intensidades para ser o que podemos viver no melhor de nossas independências. O importante é ter um olhar acolhedor, um colo que acolhe e um abraço que pode ser o melhor do mundo. Sopros de bons pensamentos para todos nós, para o mundo! 😍💝
Um excelente domingo de reflexões, estou a ver :)
Adorei todos
Obrigado escritores e poetas, por compartilhar informações e mexer com com nossos sentimentos, a todos colunistas, Parabéns.
Bons momentos são lembrados com saudade. Mas os momentos ruins também nos lembramos, porém, com tristeza, sofrimento, angústia. A tragédia de Petrópolis será lembrada sempre pelos familiares que perderam seus entes queridos. Quisera eu só ter lembranças de bons momentos. 😥
Que será a menina ingênua que Joana Rita nos trouxe? Essa eu fiquei curioso...😊