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REFLEXÕES Nº 7 — 13/02/2022

Rick Soares relembra a final da Copa do Mundo de Futebol de 1994, quando o Brasil foi tetra-campeão. Seria um presságio para 2022? Espero que sim. Regina Prado fala com a lua, enquanto Alessandra Valle diz para não chorarmos. Arléte Creazzo questiona o motivo de fazermos tantas perguntas desnecessárias e Joana Rita faz contagens que cabem nos dedos. Odilon Filho filosofa, Laíse Leão faz uma corrida sem pernas e, Joana Pereira faz uma reflexão sobre a vida volátil e efêmera.

Leia, Reflita, Comente!


Imagem: Folha/UOL



A LUA


por Regina Prado


Tenho a Lua por testemunha,

Nesse Silêncio instigante,

Desse Vazio acabrunhado,

Que às vezes se torna irritante.


Luar que também tranquiliza,

Possibilita Pensamentos voar,

E nessas linhas detalhadas,

Cantar em palavras, Amar!


Sim, pois que Amo a Vida!

Com possibilidade Infinita,

Esbarrar na reciprocidade do Amor,

Mostrando não ser Ínfima!



POR QUE PERGUNTAMOS?


por Arléte Creazzo


As pessoas são engraçadas. Estão sempre preocupadas com a opinião alheia, enquanto não nem aí para elas.


Mas mesmo sabendo o que querem, sentem a necessidade de perguntar.


Dois amigos indo a um churrasco, param em uma padaria para comprarem pãezinhos.


O que desce para comprar, pergunta ao outro que fica no carro quantos pães, ao que o outro responde.


— Pode pegar uns 10.


— Acho melhor pegar 12 — responde o que perguntou.


Se já achava que 12 estava de bom tamanho, então por que perguntou?


Duas amigas comprando roupas em loja, uma pega duas blusas iguais de cores diferentes. Resolve perguntar a amiga:


— Qual cor levo? Azul ou amarelo?


— Você fica melhor com a amarela — responde a amiga, muitas vezes sem nem ter muita certeza da resposta, mas já que foi questionada…


— Mas gostei mais da azul. Vou levá-la.


Se sabe que vai levar a azul, então por que pergunta?


Mas acredito que devemos ter a nossa opinião firme.


Lembro-me uma vez que estávamos minha irmã e eu, em uma loja de roupas, e resolvi provar umas calças cujo modelo amo, estilo mais curta. Já ouvi diversos nomes sobre estas calças, hoje em dia se chama cropped, já que brasileiro tem a mania de tudo americanizar. Mas sempre as chamei de Maria João ou pula brejo.


A questão é que provei, e minha irmã que não gosta deste tipo de calças, e nem da cor do jeans que eu provava, disse que não havia ficado bom, e eu nem havia perguntado.


Como eu havia amado a calças, resolvi levar.


Tempos depois, apareci na casa de minha irmã com as calças e ela abrindo a porta olhou disse:


— Que calças lindas, amei.


Para quem me conhece, sabe bem que não respondi apenas um “muito obrigada”. Talvez minhas palavras estivessem mais para um sermão.


Mas a questão é que provavelmente todos já passamos por situações semelhantes, respondendo ou perguntando.


Se é para não aceitarmos a resposta à nossa pergunta, por que perguntamos?


Talvez seja insegurança, ou o simples fato de podermos dizer ao outro — você respondeu, mas não preciso de sua resposta. Ou será que somos tão carentes, que necessitamos desse momento de atenção? Que embora a gente já saiba qual será nossa atitude, precisamos perguntar?


O mundo é feito de perguntas e respostas, e muitas perguntas sem respostas. Até mesmo respostas que talvez nem tenham perguntas.


Mas acredito que saber opiniões alheias, faz com que olhemos para as coisas de outro prisma. Afinal não somos os donos da verdade.


Podemos até não dizer as perguntas em voz alta, mas muitas vezes ficamos nos questionando:


– O que será que vão pensar?


Muitas vezes é mais fácil opinarmos em relação à vida alheia, do que fazermos as nossas próprias escolhas.


Quem sabe então, não devêssemos nos colocar no lugar da pessoa a quem perguntamos?


Talvez a maior questão seja o fato de que é ótimo termos pessoas ao nosso redor para opinar, mesmo que não seja a resposta que gostaríamos.


Mas se não queremos aceitar a resposta, por que perguntamos?



IGNORÂNCIA CONSCIENTE


por Odilon Azevedo Filho


Um pouco de pudor,

pois, do avesso

ninguém precisa.

Mesmo assim,

muitas vezes,

a verdade será obscena.

Se somos humanos

e nos conhecer podemos,

haveremos de temer

o que de nós sabemos?

Ou vamos preferir

uma ignorância consciente

por detestarmos algo

que possa haver na gente?




CORRIDA SEM PERNAS


por Laíse Leão


Última?

Ou seria primeira

Pelo fantástico

Se cria toda a besteira


Por estes

Versos soltos

Há tamanho desgosto

Pelo que deveria se orgulhar


Comparação

E ambição

Que nunca

Chega ao luar


Corro

Por entre as águas

Nadando

Por entre os montes


Fujo dele

Pois...

Ora

És gigante


Eles me veem

Eles me leem

Me "embolo"

Ah!... O nervosismo


Talvez

O melhor

Seja,

Me calar


Parar

De escrever,

Parar

De sonhar


E aquele

bocadinho,

A vontade de por si só

Respirar


Como

Na seca,

Irá

desidratar.




O ATOR


por Luiz Primati


O palco vazio,

Apenas um foco na ribalta.

O palhaço se aproxima da luz

E seu sorriso é amarelo.

As palavras ensaiadas fogem à mente,

A busca pelo script é voraz.

Seus olhos piscam freneticamente,

Tentando vencer o nervosismo.

Alguém tem um texto?

É o ponto que o têm. Será que consegue soprar?

O palhaço se aproxima do ponto e sofre

Ao pensar que esqueceu a primeira frase.

Quando a primeira palavra é dita,

Todo o texto lhe vem à mente.

Declama seu monólogo sem interrupções,

Sem esquecimento,

Até que a última frase ecoe pelo ar,

Atingindo as embalagens de ovos,

Coladas na parede ao fundo.

Tudo é negro,

Apenas a luz forte cega seus olhos,

Impedindo de ver a plateia.

O sonoplasta, em sua cabine, libera o play.

A luz diminui lentamente.

O palhaço baixa a cabeça,

Focando um ponto no chão.

A melodia triste hipnotiza a plateia.

Agora tudo é aplauso.

E retumbante,

O palhaço ergue-se para os assobios e as palmas.

Agradecer é a única ação

Que passa pela cabeça do ator.

O papel foi cumprido,

Agora resta admitir que um novo

Desafio começará na noite seguinte.



A VIDA É VOLÁTIL


por Joana Pereira IG: @temjuizo_joana


A vida é volátil.


Não somos estáticos. Somos várias coisas em inúmeros momentos diferentes, firmes a uma coluna vertebral de valores.


Que rapidamente também sabemos esquecer, por conta das circunstâncias, egos e afins.

Somos o que a vida nos ensina a ser. Somos essa instabilidade, seres mutantes, que se transformam no tempo e no espaço.


Então, somos uma infinidade de coisas.


As que sabemos ser e as que descobrimos que podemos ser pelo caminho, por conta da vida.

A vida é mutável, como a pele, onde o tempo esboceia a sua passagem, com os traços da bagagem que se leva, ou daquela que a memória ainda se lembra.


É flutuante como as marés, como as voltas dos astros, como os amores e humores. Nada é certo, exacto ou garantido.


E é volátil, como o último sopro de uma vida efémera.




NÃO CHORES! E VOCÊ, COMO LIDA COM O LUTO?


por Alessandra Valle


As situações cotidianas são repletas de despedidas, ciclos que se encerram. Familiares, amores, amigos, inimigos e nós mesmos retornaremos à pátria espiritual.


A verdade, é que nunca estamos preparados para uma separação, apesar de ser a única certeza de que temos nessa vida: a de que vamos nos separar pela morte do corpo físico.


Jesus dirigiu-se à cidade de Naim, um pequeno vilarejo na região da Galileia, na companhia de seus discípulos e uma multidão.


À entrada do vilarejo, um cortejo acontecia. Uma mãe se preparava para enterrar seu único filho. Se sentia só e triste, pois que era viúva.


Jesus teve compaixão da solitária mulher e ao se aproximar lhe disse:


− Não chores.


Em seguida, Jesus tocou no caixão e os que o levavam pararam. O Mestre da Luz Divina disse ao morto:


− Jovem, levante-se.


Ele se levantou, sentou-se e começou a conversar, e Jesus o entregou à sua mãe.


Todos ficaram admirados com o milagre do Divino Amigo, que fez mostrar que a vida continua, seja aqui entre os encarnados quanto entre os desencarnados.


A busca pela compreensão do fenômeno da morte tento encontrar na Doutrina dos Espíritos que esclarece que os laços de amor são eternos por isso nos unem em qualquer dimensão.


Questionamentos que me faço com este ensinamento de Jesus: Se o espírito é imortal, há barreiras para o reencontro daqueles que amamos? Qual é a medida do meu apego àqueles com quem convivo? Será difícil me separar daqueles que amo? Qual emoção me advém quando penso na morte do meu corpo físico?


As respostas são as mais variadas e se modificam ao longo da nossa trajetória terrena, não precisam ser compartilhadas, necessitam de reflexão.


Por agora, nos cabe a incessante busca pelo autoconhecimento para que possamos nos equilibrar emocionalmente diante das despedidas e o consolo ofertado pela frase do escritor e poeta mexicano Amado Nervo (1870/1919): “Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.”


Fontes de consulta: O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap XVII, Sede perfeitos.

Evangelho de Lucas 7: 11-17

O Livro dos Espíritos – Q. 149 a 165

Wikipédia Site - Amado Nervo



GRITOS MAIORES QUE O "É TETRA!"


por Rick Soares


O ano é marcante: 1994! Dezessete de julho, para ser mais exato. Eu ainda iria completar seis anos, mas tenho algumas lembranças daquele dia. As ruas da vizinhança amanheceram ainda mais tomadas pelas cores verde e amarela; bandeiras, faixas, rostos pintados e tudo o mais. Toda a conversa era uma só: a final Brasil x Itália.


Minha família estava reunida na casa da minha avó materna. Lá estavam primos, tios, irmãos e amigos, todos confiantes e ansiosos, em simultâneo, pela partida. Casa cheia! A tensão pairava naquela sala. A partida não foi uma das melhores do Mundial. Ambas as equipes não estavam representando tão bem ofensivamente, restou aos defensores o brilho, digamos assim, daquele empate em 0x0 ao fim dos dois tempos normais de jogo.


Iniciou-se a prorrogação e foi quando tive a impressão de que a sala da casa da minha avó não era tão grande como eu pensava. Minha mãe, que não parava de andar de um lado para o outro, parecia que com dois passos ou três já atravessava o vão, sempre falando a mesma coisa:


— Vocês “tão” perdendo tempo! “Tá” vendo que o Brasil não vai ganhar!


Uns pediam para ela sentar, parar ou deixar de falar aquilo. Diziam estar trazendo energia negativa para o momento, que precisava de concentração.


Não teve jeito! Fim do tempo extra! Pausa para os jogadores se concentrarem antes da disputa de pênaltis e um pouco mais de tensão na sala.


Tinha quem roesse as unhas, quem coçasse a cabeça, juntasse as mãos em preces e tinha minha mãe com a mesma reza, convicta, de que a Seleção brasileira não seria campeã.


O primeiro pênalti cobrado pela seleção da Itália isolou a bola nas alturas, para comemoração nossa, e minha mãe na dela, calada. Primeira cobrança da Seleção brasileira e o goleiro italiano defendeu, para nosso desespero.


— “Tá” vendo! Vocês ficam se iludindo aí. O tempo todo o Brasil não jogou nada! — falou minha mãe, sem dó.


As cobranças foram acontecendo até que o placar estava Brasil 3 x 2 Itália. Dunga, capitão da Seleção brasileira, havia convertido a derradeira cobrança. Partia, então, o Baggio com a esperança de um empate no último pênalti para a Itália, se perdesse o Brasil seria campeão. E não deu outra! A bola subiu muito e o que menos esperávamos aconteceu: minha mãe começou a chorar e a gritar pela casa:


— EU JÁ SABIAAA! EU JÁ SABIAAA! EU JÁ SABIAAA!


Quem não correu para fora a comemorar a vitória, ficou às gargalhadas na sala com aquela cena bastante inusitada. O grito que entrou para a história.




CONTAGEM


por Joana Rita Cruz


Posso contar pelos dedos os nomes de

artistas que ouvi na escola e numa mão os que foram reconhecidos em vida. Posso contar pelos dedos as obras dos museus de que sei o nome e as revistas literárias que vi na biblioteca.


Um, dois, três, posso contar as moedas e notas na capa aberta da guitarra do artista que canta na rua. Três, quatro, cinco, e as que estão no chapéu do senhor que faz de estátua na augusta.


Posso contar numa mão os que param por entre os prédios pombalinos para observar a arte nas ruas, para ver as suas formas e... Posso contar em dois dedos, os que param para deixar dinheiro.


Na legislação nem sei quantas são as leis e

regalias para a cultura, mas nem completarão a contagem se incluirmos os dedos dos pés. Porque as entradas no dicionário sobre a mesma não incluem política.


Porque não entra na economia o número de sorrisos e risadas? E a importância das obras lecionadas na escola. Porque não

entram as horas de trabalho e a dose de

creatividade que só possui um verdadeiro

artista?


Porque não entra o entretenimento e

salvação que são tanto as aguarelas como a poesia?


Oh leitor, que contagem tão errada esta... Que nos cabe nos dedos das mãos.




QUADRINHO

Quadrinho: Benett



NOSSOS COLUNISTAS


Da esquerda para a direita: Arléte Creazzo, Alessandra Valle, Regina Prado. Depois Laíse Leão, Luiz Primati, Rick Soares. Nossos últimos colunistas: Odilon Azevedo Filho, Joana Pereira e Joana Rita Cruz.

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1 commento


sidneicapella
sidneicapella
13 feb 2022

Parabéns pelos textos, todos sensacionais, gostei muito e viajei nas escritas.

Vou deixar aqui um um comentário referente o texto da Alessandra.

Eu acredito na vida após a morte, a certeza que tenho, me traz muita paz e aceitação na partida de alguém próximo. A matéria é mortal, o espírito é imortal em um processo de evolução, e a morte faz parte do processo. (Parabéns Alessandra pelo texto,).

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