REFLEXÕES Nº 162 — 01/06/2025
- Luiz Primati
- há 2 dias
- 14 min de leitura

PERDAS E RENASCIMENTOS
A lagarta, pequena e frágil, rasteja pela vida, carregando em si um mistério que só a natureza compreende. Em um momento de silêncio, ela se recolhe, construindo ao seu redor um casulo de solidão. Não é um fim, mas um intervalo sagrado. Dentro daquele invólucro, a lagarta se desfaz, dissolve-se em sua própria essência, para então renascer como borboleta — vibrante, livre, alada. Essa metamorfose não é apenas um espetáculo da natureza; é um espelho da alma humana.
Assim como a lagarta, nós, humanos, enfrentamos momentos em que a vida nos fere. A perda de um ente querido, o fim de um sonho, a sombra da depressão — essas são as tempestades que nos empurram para dentro de nossos próprios casulos. Quando alguém querido parte, é como se o chão sob nossos pés desmoronasse. A dor nos envolve, e, muitas vezes, escolhemos o silêncio, a introspecção, o recolhimento. Nesse casulo de solidão, choramos, questionamos, nos perdemos. Mas, assim como a lagarta, esse momento de escuridão não é o fim. É o prelúdio de um renascimento.
Pense na pessoa que, devastada pela perda de um familiar, se fecha em sua dor. Ela se afasta do mundo, como a lagarta que se esconde do sol. A depressão a envolve como um casulo, mas, dentro desse espaço, algo profundo acontece. Lá, no silêncio, ela enfrenta suas sombras, reconstrói seus pedaços, descobre forças que não sabia possuir. E, um dia, como a borboleta que rompe o casulo, ela emerge. Não é mais a mesma. É mais forte, mais sábia, com asas forjadas na dor e na resiliência.
A natureza, em sua sabedoria, nos oferece outras lições. Veja a árvore que, no outono, deixa suas folhas caírem. Cada folha que despenca é uma perda, um adeus. Mas a árvore não morre; ela se despe para se preparar para a primavera, quando novas folhas brotarão, mais verdes, mais vivas. Assim é com as pessoas: às vezes, precisamos deixar ir — um relacionamento, uma versão antiga de nós mesmos — para dar espaço ao novo.
Considere o rio que, ao encontrar uma rocha em seu caminho, não para. Ele contorna, adapta-se, segue fluindo. Nós também enfrentamos obstáculos — lutos, fracassos, desilusões. Como o rio, aprendemos a nos moldar, a encontrar novos caminhos, a continuar apesar das barreiras.
E o que dizer da semente? Enterrada na escuridão da terra, ela enfrenta o peso do solo, a ausência de luz. Mas é exatamente nesse confinamento que ela se transforma, rompendo a casca para buscar o céu. Assim são os momentos em que nos sentimos soterrados pela vida. A escuridão pode parecer eterna, mas é nela que germinamos, que encontramos a força para crescer.
A vida imita a natureza em sua dança de perdas e renascimentos. Cada ciclo, cada transformação, nos lembra que o fim é apenas o começo de algo novo. A lagarta não teme o casulo, a árvore não lamenta suas folhas, o rio não recua diante da rocha, a semente não desiste sob a terra. E nós, humanos, carregamos essa mesma força. A dor nos molda, mas não nos define. O casulo nos acolhe, mas não nos prende. Renascer é nosso destino.
E você? Já se recolheu em seu próprio casulo, enfrentando a escuridão para encontrar sua luz? Já descobriu, em meio à dor, as asas que o fizeram voar mais alto?
RAZÃO E EMOÇÃO
A integração entre os dois hemisférios cerebrais, o esquerdo e o direito, acontece de forma natural e necessária. Ambos são importantes para a nossa condição humana, promovendo espaços de pensamentos e sentimentos.
A razão significa cálculo, conta, medida, regra, é a faculdade de julgar, raciocinar, compreender e ponderar. Enquanto a emoção é uma experiência subjetiva, associada a sentimentos, estes sendo lapidados pela razão, a transformando em pedra preciosa.
Cada um de nós compõe o colorido e a beleza de nossa individualidade, de nossas criatividades. O vigor de nossos pensamentos, em sintonia com as nossas emoções, aponta para vivermos uma vida dinâmica, sem limites, para buscarmos a nossa liberdade de transformar a estética de nossas motivações.
Reinventar o dia a dia, com ideias e motivações, são ações possíveis, nos levando a fortalecer a nossa capacidade de superação.
Sabemos que não existem soluções mágicas, e sim a vontade de olhar para um mundo cheio de possibilidades, como amar, viver…
Unir cérebro e emoção rompe com o vício e a impregnação de uma vida somente racional em detrimento dos afetos.
Vamos pensar nessas reflexões?
Fiquem felizes!
INFÂNCIA ROUBADA
No Brasil, segundo o ministério da justiça e segurança pública, seis crianças desaparecem por dia,
crianças que são aliciadas na porta das escolas, crianças
que são aliciadas por trás
da tela de um computador;
crianças que são observadas
nas redes sociais, crianças
que são observadas nas praias, crianças que só querem ser criança e viver a plenitude
da sua doce infância.
Crianças que estão sofrendo
após ter a sua infância roubada
após serem sequestradas,
após serem abusadas,
após serem vilipendiadas,
e muitas são forçadas
a se prostituir e a alimentar
esse mundo obscuro
da prostituição infantil.
Todos os dias,
no finalzinho da tarde a
menina saía para comprar
pão, e voltando da padaria,
a menina caminhava toda
serelepe na beira da calçada
até que ela foi abordada
por um desconhecido
que a convenceu
entrar em seu carro.
Com a demora da menina,
sua mãe ficou preocupada
e saiu desesperada à sua
procura, sem sucesso,
Dona Maria seguiu para
a delegacia, ao chegar,
se surpreendeu com o
relato da delegada
que afirmou que o
desaparecimento
só poderia ser
considerado após 24h.
Isso é uma falta de sensibilidade
diante da dor de uma mãe
afinal, as primeiras horas
são cruciais para encontrar
uma pessoa desaparecida
ainda mais se tratando de
uma criança de nove anos,
dona Maria seguiu
procurando sua filha,
desesperadamente com
apoio dos familiares
e dos vizinhos.
A polícia iniciou uma investigação
porém, conforme o tempo foi passando, Alice se tornou mais uma estatística da sociedade
e após quinze anos de angústia
ela se tornou mais uma criança que desapareceu dentre
milhões que já desaparecem
no Brasil e no mundo.
Atualmente, Dona Maria de Lurdes
se juntou ao movimento das mães
da Sé que lutam incessantemente
para encontrar seus filhos e filhas
desaparecidas, na placa que dona
Maria carrega no peito está escrito que a menina Alice desapareceu com nove anos e hoje onde
ela estiver está com vinte
e cinco anos, com o olhar
cansado, mas cheia de
esperança; Dona Maria
sonha com o dia de
reencontrar a sua filha.
REFLEXÃO DE UMA TARDE NO JARDIM
Era um sábado à tarde, e eu estava sentada do lado de fora, bem na entrada da porta da cozinha, observando a movimentação no jardim da minha casa. As folhas das árvores balançavam com o vento, desprendendo-se com suavidade, como se atendessem a um chamado silencioso da natureza.
A brisa fresca da primavera tocava meu rosto com delicadeza, como um carinho inesperado, e o canto dos pássaros preenchia o ar com uma harmonia serena. Diante de tanta simplicidade, me vi mergulhada em silêncio. Um silêncio cheio de sentido.
Ali, naquele instante comum, comecei a refletir sobre a vida. Como ela se move, muda, escapa. Percebi como, muitas vezes, estamos ocupados demais para notar a poesia que existe nos momentos mais simples. Mas é justamente neles que a vida se revela com mais verdade.
A cada folha que caía, via a metáfora dos ciclos, entre o deixar ir e o do renascer. A vida é feita disso: de ventos que nos atravessam, de estações que nos transformam, de pausas que nos ensinam a somente ser.
ESSA FELICIDADE
Felicidade é o dia a dia,
cada detalhe importa — e muito!
Se aparecer uma flor,
uma folha,
alguém especial,
um livro,
uma borboleta,
um beija-flor…
Ou mesmo
um desânimo,
uma melancolia,
uma dificuldade,
mágoa…
Não importa o que surgir,
diga:
“Vou seguir essa felicidade pelo mundo!”
MÃE
Mãe é ternura,
É renúncia,
Entrega,
Doação,
Abnegação.
É vínculo perfeito de amor,
É cuidado protetor.
Independente da idade do filho,
Sempre haverá preocupação.
Desde a gravidez,
Inicia-se a sua dedicação.
Na adolescência, os conselhos se intensificam:
– Fique longe de brigas!
– Evite as más companhias!
– Foque nos estudos!
– Lembre-se disso todos os dias.
Ser mãe é ter amor sublime,
Incondicional.
O cordão umbilical
É cortado ao nascer,
Mas o amor perdura
E tende a crescer.
Mãe é colo,
É brisa que refrigera.
É o lindo pôr do sol
Que deixa a vida mais bela.
Mãe é oceano de amor
Que transborda no coração.
É fonte de carinho e alegria,
É a mais linda poesia.
MEIO AMBIENTE
Junho é o mês que nos propõe refletirmos, mais ainda, sobre o meio ambiente.
Como está o meio ambiente?
O que está sendo feito para preservar o meio ambiente?
Como está a saúde do ser humano e de outros seres vivos diante de tanta devastação?
Como está a fiscalização dos orgãos ambientais?
Quem mais polui?
Vemos todos os dias, tristes notícias, veiculadas nos meios de comunicação, em decorrência das mudanças climáticas.
Quando a consciência ambiental será adquirida?
Onde vamos parar com tantos interesses egoístas dominados pela ambição do lucro?
Toda vida importa.
A hora de cuidar do futuro é agora, amanhã poderá ser tarde demais.
O ADEUS QUE QUEIMA
O adeus que queima,
Feito uma explosão,
Não tem quem queira,
Machucar o coração.
O desamor e o desespero,
A agonia da solidão,
De Deus eu espero,
Um pouco de compaixão.
A despedida,
O último abraço,
A dor da partida…
O adeus para nunca mais,
Poesias no calhamaço,
Saudades serão demais.
SILÊNCIO EM CHAMAS
Domínio ardente
Que me consome há tempos...
Não consigo descobrir um caminho para sair.
Para me libertar desse silêncio
É necessário desabafar.
Mas, como começar?
É algo tão forte esse medo
Já se tornou um fardo esmagador.
Entre esperança e certeza
Preciso apenas de uma chance
Uma saída que me liberta dessa prisão
Que se converteu no meu temor.
De não conseguir voar...
Até onde meus desejos mais secretos
Desejam encontrar-se...
É necessário decolar.
Me soltar desse silêncio
Que está em erupção...
A TECNOLOGIA DO DESEMPREGO
Cada vez mais a tecnologia avança para setores e ocasiões que há cinco anos não imaginávamos.
Coisas que apenas víamos nos filmes, imaginando se algum dia tudo aquilo aconteceria. E aconteceu.
Mas infelizmente com a chegada do avanço tecnológico, chegou também o desemprego.
As agências bancárias se fechando, já que podemos fazer várias transações através dos aplicativos bancários.
Frentistas perdendo seus empregos por conta de bombas que funcionam através do próprio cliente.
Até mesmo cursos EAD tirando emprego de professores, já que um mesmo professor pode dar aula para muito mais alunos através da internet.
Livrarias falindo por conta de Ebooks e escritores quase não tendo credibilidade por conta da inteligência artificial.
Cenógrafos e decoradores já perderam suas funções, já que a maior parte das filmagens é através de um fundo verde que se tornará a imagem.
Mesmo os atores não serão mais úteis, já que basta colocar seus rostos em um programa, para que se crie uma cena.
Então me pergunto: qual será a função do ser humano além de apertar botões? Onde fica o calor humano?
Teremos saudades do cordial bom dia do porteiro, ou do gerente do banco dizendo: sente-se por favor?
Cirurgias já são feitas através de muitas máquinas (o que não estou dizendo ser ruim), mas é muito bom ter um rosto ao seu lado, tendo ao menos uma ideia de como se sente, já que uma máquina não pode fazer isso.
Sentiremos falta do ser humano que ajuda, que informa ou que cumprimenta?
Podemos ter falhas e não executar o trabalho direito sempre, mas as máquinas também não são infalíveis, afinal são feitas por humanos, por enquanto.
MEMÓRIAS
Lembranças chegam como borboletas, voando leves e pousando suavemente no jardim do meu coração. Como cenas de um filme, elas trazem à tona lugares queridos, pessoas amadas, uma música inesquecível, familiares, estradas e brincadeiras que arrancavam sorrisos. Falam de saudade, de um tempo dourado que vive em nós.
Sem essas memórias, não seríamos quem somos. Com elas, construímos uma colcha de retalhos, cada pedaço de tecido carregado de significado. Minhas lágrimas regam esse jardim, onde florescem flores com a minha essência — tudo o que fui, vivi e senti. Elas perfumam o ar e nos ensinam que somos feitos assim: de memórias, de mim e de ti.
O TEMPO NÃO PARA
"...Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada
ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão
rolando os dados
Porque o tempo,
o tempo não para..."
Como canta o eterno e atemporal Cazuza em sua poesia reflexiva, o tempo não para. Vivemos como o personagem da canção, lutando contra o relógio e as adversidades que a vida impõe, muitas vezes sem trégua ou alívio, mergulhados na incessante batalha pela sobrevivência.
Uma forma de perceber a passagem do tempo é nos vestígios deixados pela falta de cuidados básicos no cotidiano, como marcas de um delito contra si mesmo. Em uma cena do filme As Linhas Tortas de Deus, a protagonista aparece com a raiz dos cabelos escura, contrastando com o tom acobreado do restante das madeixas. Ali, vemos o tempo revelado na ausência da manutenção que as normas sociais exigem. Presa em uma realidade isolada, como alguém sequestrado, ela luta para sobreviver, alheia à discrepância de sua imagem em relação ao padrão cobrado pela sociedade.
Da mesma forma, uma mãe imersa nos cuidados de um filho adoecido esquece de si. Os cabelos, há dias sem lavar, e o esmalte descascado nas unhas denunciam o tempo que escapa. Vivendo — ou melhor, sobrevivendo — com quatro ou cinco horas de sono, café e fé, ela se dedica incansavelmente ao seu rebento.
No automatismo das circunstâncias, ela prepara uma mesa que está longe de ser um banquete, mas que, com esforço, transforma em algo especial. E assim, o tempo corre, escorre entre os dedos. Esses personagens seguem maratonando contra os ponteiros de um relógio que parece cada dia mais implacável. Mesmo assim, com perseverança e esperança em dias melhores, eles se levantam da cama, acreditando que hoje pode ser melhor que ontem.
Lindas reflexões de domingo. Um dia abençoado a todos os colegas da Valleti Books. Deus nos abençoe nesse dia, nesse mês de junho. Que o melhor nos aconteça. 🙏❤️