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DIÁRIO DA PANDEMIA — 16/03/2023


Imagem gerada com IA
 

AUTOR LUIZ PRIMATI


Luiz Primati é escritor de vários gêneros literários, no entanto, seu primeiro livro foi infantil: "REVOLUÇÃO NA MATA", publicado pela Amazon/2018. Depois escreveu romances, crônicas e contos. Hoje é editor na Valleti Books e retorna para o tema da infância com histórias para crianças de 3 a 6 anos e assim as mães terão novas histórias para ler para seus filhos.
 

SALVO PELA POESIA E A MÚSICA


A pandemia foi um verdadeiro pesadelo, um período de dor e solidão sem fim. Em pleno outono, senti a tristeza invadir meu coração, como se eu estivesse mergulhado em uma depressão profunda e sem saída.


Meu apartamento se transformou em uma prisão, as ruas estavam desertas e os pássaros voavam solitários, trazendo a lembrança da liberdade que eu tanto ansiava.


Enquanto isso, na TV, as autoridades impunham medidas rigorosas, bloqueando a passagem das pessoas nas esquinas e levando ciclistas para a prisão, como se fossem criminosos perigosos.


Como lidar com tanta insanidade? Como manter o equilíbrio mental em meio a tantas atrocidades?


Foi então que encontrei refúgio na poesia e na música. Inspirado pela série "Dickinson" da Apple TV, encontrei nas estrofes solitárias uma forma de expressar minha dor e meu sofrimento. E a música, ah, a música! Ela me envolveu em suas melodias e tornou meus dias mais suportáveis.


Mas, apesar de ter conseguido lidar com a dor, eu não posso ignorar a quantidade de pessoas que perderam suas vidas, seus empregos e sua dignidade nesses terríveis anos. É uma tristeza que me dilacera o coração.


Eu sou grato por estar vivo e poder contar essa história para as gerações futuras, mesmo que alguns homens tentem apagar as memórias ou desmenti-las. Para mim, essa história sempre será uma cicatriz dolorosa, mas também um lembrete da força e da coragem que todos nós tivemos que encontrar para sobreviver.


 

AUTORA MÁRCIA NEVES


Márcia Maria Santos Neves (1982), professora, graduada em Letras pela Universidade Católica de Santos e pós-graduada em Alfabetização e Letramento pela Universidade Santa Cecília; multiplicadora do EducaMídia; brasileira, baiana de origem, vicentina e santista de coração, mamãe do Yohan, amante das letras e da poesia e apaixonada pela educação. Autora do livro de poesia Grades de liberdade e do livro infantil Poesia – o mundo encantado das crianças. Coautora no manifesto “Korja Sacrílega”. Participou da 1ª Copa Poesia Portugal e da IV Copa Poesia Brasil em 2022 pela Cronópolis. Com mais de cem textos publicados no site Recanto das Letras. Desde 2002 reside no litoral sul do estado de São Paulo. Acredita na força reflexiva de suas poesias e busca tocar o coração de seus leitores a cada escrito que publica. Co-autora em mais de 10 antologias.
 

INCERTEZA


Não sei como vai ser se eu sobreviver. Pensei nisso, alguns dias depois. A única certeza de que não estou morta são os ruídos das obras no meu condomínio. Não sei se antes eram tão alarmantes, ou se nunca havia prestado atenção. Agora, pessoas operam suas máquinas dentro de suas próprias casas, digo apartamentos. Afinal, aglomeração só é permitido do lado de dentro.


Os dias têm sido também alarmantes, basta para isso, ligar a TV, ou de modo tenebroso, abrir os grupos de WhatsApp. Foi assim logo no primeiro dia, quando eu já havia posto meu uniforme e acabava de estocar em minha lancheira, aquilo que me alimentaria durante o período.


— Fiquem em casa!


Fechei e abri novamente o aplicativo a fim de me certificar de não estar em estágio noctâmbulo.


— Há um vírus em circulação, e precisamos nos isolar.


Instantaneamente mensagens se acumulam em meu celular.


Não estava isenta do trabalho. Não. Precisava chegar a ele de alguma forma. Momentos horripilantes e tudo parecia trote, mas foi só o primeiro dia.


— Mandem atividades adaptadas para o meu e-mail, que correspondam às aulas de hoje, assim dizia a próxima mensagem. E a próxima e a próxima.


De súbito, tudo nesses primeiros dias aconteceu.


A mídia, como sempre, tem necessidade de assaltar nossas percepções e querer que vejamos por entre as câmeras. Entre ser eu e estar no mundo, encontro-me agora, vivendo um faroeste silencioso. Não sei se vou ou se fico. Mas tem muita gente falando, e eu ainda estou em casa, quero viver, mas prefiro em silêncio.


O que não consigo é ficar sem fazer nada.


Abro o armário e tenho a sensação, neste exato momento, de estar abrindo-o gradativamente à medida que os alimentos fogem de vista. Mas hoje, eu tenho o que comer. Respirei como quem recendia o último oxigênio.


Telefone toca. — Sim, estou bem. Cuidem-se! Parecia uma gravação eletrônica, daquelas de fax. Diariamente se repetia.


Ufa! Parece que estamos vivos.


Esses barulhos matinais me dirigem às cenas do Poço, todos precisam sobreviver, mas não há equidade, assim posso ver a mídia mostrando os “espertalhões” na fila dos supermercados, para garantir a sua despensa, e nem seria um ensaio sobre a cegueira. Não vejo nada surreal, o que há não é um retrato social diante de uma pandemia, é o abismo dominante.


Diante dessa trágica pandemia, fatos adversos roubam a cena, o ser humano é mesmo um revelador de peripécias.


Que momento horrível estou vivendo. Já vivo sozinha por opção, ou quiçá, necessidade. Agora, o medo de morrer me toma de jeito, e a saudade começa a se mostrar arteira. Logo eu que pareço ter rodinhas nos pés, e não curto muito ficar integralmente em casa. Mas tudo bem, é preciso saber viver.


O medo tem nome e a saudade tem vez. Meus mais novos aliados.


Diante do que sinto, não imagino muita coisa, não dá. Ir à padaria, andar na praia, jogar conversa na mesa nos finais de semana, etc. Impossível! Não há ninguém lá. Mas se eu for, mesmo sem ninguém, não mais irei sozinha.


Assim como eu, muitas pessoas estão se acostumando com novas rotinas que estão surgindo. Eu mesmo preciso me adaptar rápido a muitas delas, para não ficar de fora da nova indústria de ócio, a Internet.


Abro a câmera, dou bom dia, falo de música, de filmes, de séries, compartilho intencionalmente o link de um jogo correspondente à aula, sigo à risca os protocolos desse novo remoto e o dia passa.


Não me sinto mais sozinha. Todos, praticamente, estão lá, por trás das lentes.


— Não quero me confinar; toda minha vida nessa narrativa fora um “lockdown”. Acontece que, desde o circunspecto, alienado e o persecutório, todos querem falar nas redes sociais.


Eu, o medo e a saudade já temos nosso grupo. Resta-nos saber se teremos seguidores, além da Covid 19.


— Qual a senha do WiFi?


 


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