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CRIATURAS NOTÍVAGA(S) Nº 12 — 01/06/2022

Foto do escritor: Luiz PrimatiLuiz Primati

Mais um conto de Carlos Palmito. Uma tragédia numa fábrica de papéis mostra um grupo de bombeiros num resgate perigoso. Qual o fim desses corajosos combatentes das chamas?


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ENTRE BORBOLETAS NEGRAS


por Carlos Palmito


— Vigor, homens, preciso de vocês a cem por cento — esta frase ressoou por cima do barulho das sirenes. — Temos bastante trabalho a fazer.


André abriu a porta do camião e saltou para o chão, com os olhos vidrados na devastação noturna que se apresentava perante si, uma vez mais, a fábrica de papel decidiu fazer história, colher vítimas para si, como se fosse uma ceifadora de almas vinda do reino de Hades.


Longa vida à prole infernal e seus fieis súbditos, a vós oferecemos estes sacrifícios.


— O que raios aconteceu aqui, comandante? — André continuava perplexo, espirais de fumo ascendiam aos céus ocultando a lua e as suas vassalas estelares. — Quantas pessoas estão ali soterradas?


— Não faço ideia — retorquiu o comandante, enquanto se começava a equipar. — Homens, quero todos prontos em cinco minutos — fez uma ligeira pausa olhando na direção do bombeiro de metro e oitenta. — André, preciso de uma palavrinha contigo.


— Diga, comandante? — replicou enquanto vestia as calças, o alarme fora dado há quinze minutos, os camiões lançaram-se à estrada apenas dois minutos após, não dando tempo aos bombeiros de intervenção rápida para se equiparem.


— Sei que esta é a tua segunda operação desde que mudaste da equipa dos paramédicos, e é a primeira que aparente ser caótica — o comandante passou os dedos no bigode farto em tom de meditação. — Sentes-te preparado?


O antigo paramédico, fitou os olhos azuis do comandante, inspirou fundo, sentindo o odor quente de metal e betão em ebulição, no alto, uma parafernália de pássaros voava em pânico, sendo a sua maioria morcegos.


— Meu comandante, não se preocupe — vestiu o colete e colocou a botija às costas. — Mais preparado não podia estar.


— Ótimo! Pessoal, o tempo acabou, quero duas equipas a controlar os fogos laterais, mais uma outra pronta para desbloquear a entrada do edifício.


— Certo, comandante! — replicaram todos os bombeiros num grito coral digno dos antigos exércitos gregos.


As mangueiras foram ligadas aos autotanques, e puxadas até à zona em chamas, de onde labaredas lançavam faúlhas ao infinito, parecendo flechas lançadas de um inimigo ardente; o ar estava pesado, mesmo por trás das máscaras sentiam todos os odores misturados num só: aço, madeira, betão, plástico e carne.


No astro, as constelações celestiais estavam escondidas atrás dos rolos de fumo negro e dos bandos de morcegos que eram cada vez maiores; por entre os destroços ouviam-se gemidos e gritos, pânico estridente lançado por cordas vocais distendidas.


André estava com uma equipa a vasculhar escombros em busca de sobreviventes, enquanto aguardavam que o exército da labareda fosse controlado pela água que jorrava incessantemente das mangueiras, uma batalha entre dois elementos primordiais, água e fogo.

As gotículas dispersas no ar brilhavam com a iluminação das chamas e das luzes azuis dos camiões, parecendo diamantes em busca dos seus inimigos, as faúlhas em forma de pirilampos, a visão em si, seria mágica, não fosse a razão da sua origem estar soterrada entre escombros, provavelmente morta.


— Tenham atenção às projeções — berrava o comandante. — Preciso de dois voluntários para controlar o mato aqui à volta, não precisamos de outro incêndio para nos distrair as atenções do fulcral.


Dois membros da intervenção rápida apressaram-se, sabiam que o tempo era fundamental, e tinham consciência que se o fogo alastrasse para o matagal seria difícil controlá-lo, para além de que teriam que desviar meios humanos para lá, recursos esses indispensáveis na busca por sobreviventes.


O bombeiro de metro e oitenta ia deslocando o máximo que conseguia dos destroços, pedaços de betão e ferro, auxiliado pelos quatro membros do grupo em que estava inserido, sempre com o máximo de atenção, o mínimo descuido e poderia criar nova derrocada.


A cada pedra removida encontrava um pedaço do que em tempos tinha sido um ser humano; engolia em seco por cada parte que encontrava, a chacina que contemplava era de adolescentes que mal tinham passado da fase infantil, crianças em busca da perdição ofertada por uma festa ilegal.


Doía-lhe a alma, estava habituado à morte desde os tempos na ambulância, mas jamais houvera vislumbrado algo tão terrífico como o que ali se apresentava, corpos despedaçados, irreconhecíveis, sangue a tingir de escarlate um solo que por si só já era um cemitério, nem que fosse pela história.


— André, ajuda aqui, temos um sobrevivente.


Correu para lá, o tempo era crucial, o seu colega apontava para um rapaz, dezasseis anos máximo, braço esquerdo esmagado por uma rocha, os morcegos guinchavam, tinha um ferro a perfurar-lhe o abdómen, os diamantes estavam a ganhar a batalha, olhos fechados e respiração rápida, o mundo interno colapsou ali.


Pegou na serra e cortou o resto do espigão, sabia que não o podia remover do corpo, seria fatal para o rapaz, as faíscas criadas pelo atrito da serra e do metal unificaram-se às da devastação, em segundos os paramédicos chegaram com a maca, para levar o pré-adolescente.


— Quem terá sido o idiota que pensou em fazer uma porra duma festa aqui? — perguntou o antigo paramédico, enquanto observava as chamas quase extintas.


— Isso é um assunto que a polícia irá tratar — respondeu o colega de batalhão. — Anda, vamos começar a desbloquear a entrada, as chamas estão quase controladas.


Ergueu-se a custo, sentia o suor a escorrer-lhe pela face, o corpo inteiro a transpirar, enquanto no céu mais e mais pássaros noturnos se juntavam ao bando existente, uma deturpação de Hitchcock atirada para uma banda desenhada de Batman.


As labaredas estavam finalmente apagadas, os pirilampos mortos, chacinados por gotículas em forma de diamante, o fumo era negro, o vento quase inexistente, Deus apenas uma palavra e as preces inexistentes, André sentiu uma tontura, uma vertigem, piscou os olhos negros em busca de equilíbrio.


O comandante apercebeu-se, dirigiu-se para lá apressado, quando o Divino se apresenta omisso, os bombeiros têm que correr, fazer o papel dele, salvar vidas, quiçá almas perdidas.

— Estás bem André?


— Estou sim, meu comandante, foi só uma vertigem.


— De certeza? Não quero heróis mortos, rapaz.


— Absoluta. Vou-me juntar ao grupo.


O comandante sorriu por trás da sua máscara, enquanto o homem de metro e oitenta se afastava em direção a um ponto de entrada do edifício em ruínas.


— Preciso de barras de apoio aqui enquanto removemos entulho — vociferou alguém entre o corpo de bombeiros. — A última coisa que precisamos é que isto nos caia na cabeça enquanto retiramos vítimas do interior.


A última pedra foi deslocada, a trave de apoio colocada, um túnel artificial criado na entrada da cripta em forma de armazém.


André olhou para cima, as aves continuavam a circundar a zona, o fumo era agora menos espesso, já se conseguiam ver estrelas, embora parecessem observadas através de um espelho embaciado, se acreditasse em religião rezaria antes de entrar, contudo, o seu Deus era apenas uma entidade ausente. Entrou.


No interior da cripta, a escuridão era quase total, a única iluminação vinha das lanternas de ombro do corpo de intervenção rápida e de pedaços incandescentes do edifício colapsado.

O ar estava pesado, mais que no exterior, sentia-se o odor de cinzas, carne, sangue, suor, fezes e urina, excrementos de mortos, o fumo era denso, e a toda a volta se ouviam gemidos e gritos, implorações de ajuda berradas pela juventude da sociedade, os donos do amanhã.


Mesmo através do fumo, que aqui, no coração da devastação, era espesso, quais nevoeiros escoceses, André apercebeu-se de movimento na sua esquerda; deu um toque no ombro do colega que ia na sua frente e apontou a direção com o olhar.


Examinaram em conjunto o pouco espaço à sua volta, parecia um caminho livre de perigo, isento da possibilidade de colapsar, no topo as vigas que derrocaram estavam apoiadas por uma estrutura metálica mais baixa, existiam alguns pequenos focos de incêndio, mas nada de assustador.


— Tens a certeza que viste alguém?


— Sim, pode ter sido apenas impressão minha, nesta fumarada é difícil distinguir algo.


— Vamos — virou-se para o grupo. — Pessoal, eu e o André, vamos para a esquerda, preciso de mais dois connosco.


Rapidamente dois homens juntaram-se a eles, seguidos de um terceiro, percorreram o caminho da esquerda, que em poucos metros afunilou, tornando-se estreito, ladeado por entulho proveniente do teto.


Ouviam gemidos mais para a frente, dores corporais vocalizadas por um esganiçar cansado, já não existiam gritos, nem preces, nem pedidos de auxílio, apenas lamentos escondidos na fumaça, gargantas de corpos esgotados e desidratados.


— Alguém vivo por este lado? — gritou um dos bombeiros.


Apenas o silêncio respondeu, o vento começou a uivar no exterior, penetrando no armazém pelo túnel artificial, alguns morcegos esvoaçavam no interior, todo o espaço interno parecia saído de um filme de ficção cientifica.


— De onde vêm tantos morcegos? — indagou o antigo paramédico.


— Não sei — observou o ambiente ao seu redor, em busca de vestígios de vida para além dos seres alados. — Alguém vivo?


— Aqui, ajudem, por favor, aqui — a voz era fraca, feminina na essência, quase inaudível, o som de alguém em exaustão.


— Em que direção? Tem alguma luz consigo que possa usar para nos guiar até si?


— Tenho, está acesa, conseguem ver?


O quinteto da corporação de bombeiros perlustrou a área circundante, em busca de vestígios cromáticos da luz, tudo se mantinha escuro por detrás de um véu de fumo, excetuando algumas poucas brasas aqui e acolá.


— Fique onde está, estamos a caminho — virou-se para os seus companheiros num sussurro. — Viram a luz?


Todos encolheram os ombros em negação, algures no teto ouviu-se um chiar de metal, a estrutura baixa começava a ceder sob o peso das vigas superiores.


— Isto só pode significar que está encoberta por escombros, vamos.


Caminharam em fila indiana por cem passos, até se depararem com uma muralha de lixo, vigas, pedras, betão, um emaranhado de fios suspensos, cordas de marionetas sem bonecos para manipularem, o vento que soprava no interior avivou algumas chamas.


— Está aqui?


— Aqui atrás — a voz estava mais extenuada.


— Quantas pessoas estão consigo, minha senhora?


Um momento de silêncio na penumbra do edifício.


— Somos dez ao todo, mas temos um ferido, tem um golpe profundo na perna direita.


— Certo, aguentem só mais uns minutos, já os libertamos daí — retorquiu o bombeiro. — Mantenham-se afastados das rochas, que algumas podem cair.


Em segundos os membros da corporação começaram a remover entulho, lixo da decadência do edifício aprisionador de adolescentes que ainda mal largaram as tetas das mães.


Usaram tábuas das imediações para criarem estruturas de apoio, o vento uivava e as chamas avivavam cada vez com mais possança, as pequenas velas começavam a tornar-se lareiras.


No alto, o ranger do metal tornava-se cada vez mais audível e frequente, Cronos mostrava-lhes que o tempo não para.


Dez minutos depois já existia visão para o interior da cela improvisada, a cripta estava prestes a libertar alguns dos seus espetros.


Cinco minutos após a visão, já existia espaço para os corpos transporem a barreira, André não esperou, entrou na divisão falseada por detritos, seguido pelo colega que estivera a manter contacto com a mulher do lado de dentro.


— Finalmente — uma ruiva saltou-lhe para os braços. — Já podemos sair, ir embora? — perguntou por entre tosse causada pelo fumo.


— Calma, minha senhora — disse o acompanhante de André. — Foi consigo que estive a falar?


— Sim.


— Onde está o ferido?


— Ali — apontou para um pilar que se mantinha erguido no meio da devastação. — Encostado ao pilar.


André correu para lá, o companheiro dele deu ordem para os outros nove elementos evacuarem o local, do lado de fora da porta improvisada, um dos outros três membros da corporação começou a transportar gente para o exterior.


O golpe na perna do adolescente era fundo, Rúben improvisou um torniquete e transportou-o ao colo até ao túnel, aí os dois homens da brigada de intervenção rápida auxiliaram-no a sair.


Daqui, tudo aconteceu rápido, ouviu-se um estalar, as tábuas da estrutura de apoio rebentaram no mesmo exato instante que as armações metálicas por cima se despedaçaram, uma chuva de ferro e pedras caiu sobre os bombeiros, do chão levantou-se poeira, no teto os morcegos gritaram.


Rúben e André ficaram prisioneiros da cela de onde libertaram a juventude perdida.

— Estão bem? — a voz veio do exterior.


— Sim, — gritou André, enquanto olhava para a parede na sua frente e ouvia mais metal a rechinar. — Levem esse gajo daqui para fora, o edifício está instável, o resto que sobra pode cair a qualquer instante, ponham-se em segurança.


— E vocês?


— Não te preocupes connosco — olhou para o colega que se levantava. — Como o comandante disse, não precisamos de heróis mortos.


Ouviu passos do outro lado do entulho, os colegas partiram levando com eles o rapaz com o torniquete improvisado, o armazém gritava em afligimento, os seres alados pareciam multiplicar-se e o pó brilhava por entre o fumo e a luz de ombro dos dois prisioneiros.


— E agora Rúben?


— Agora vamos procurar saída — apontou para a parede de detritos enquanto limpava as glândulas oculares. — Por aí já sabemos que não dá.


Ambos os homens perscrutaram a sua prisão de betão e aço, numa parede, uma rosa-negra acendeu-se ao passar da luz por ela, em vários pontos os focos de incêndio multiplicavam-se e o fumo tornava o ambiente quase irrespirável.


Optaram por caminhar em direção à rosa, a estudar cada passada, um pé colocado em falso poderia ser fatal, do alto começaram a cair detritos, as labaredas internas estavam a unir-se, os bombeiros, irmãos de armas num exército de paz, repudiavam o medo que teimava em surgir.


Repentinamente a cripta estremeceu, um espasmo muscular de um edifício em sofrimento, um estrondo idêntico a um trovão ecoou nas suas entranhas revoltadas, o teto colapsou, André pulou por instinto.


O chão cedeu com o impacto, abrindo uma cratera no que deveria ser chão firme, arrastando para o vazio os soldados da paz e toneladas de lixo, detritos vomitados do armazém, despejados para o interior da terra, do lado de fora, o comandante assistia sem nada conseguir fazer.


— Rúben?


Nenhuma resposta, somente vazio e desolação.


André olhou para o alto, uns quinze metros pelo menos, talvez até mais, impossível de escalar sem equipamento. Acendeu a luz no ombro que, miraculosamente ainda funcionava.


— Rúben?


Um gemido baixo, apontou a luz na direção, tentando vislumbrar algo para além da poeira levantada.


— Estás bem?


Novamente o vazio inaudível, aproximou-se do local de onde ouvira o gemido, o seu colega jazia numa poça de sangue, em cima dele tinha uma das vigas do grande e omnipresente edifício ceifador de vidas, assassino de betão.


Um novo grito do edifício, mais restos do mesmo desabaram pela cratera aberta, André pulou para o espaço vazio, tentando-se proteger, sem se aperceber da escarpa que se abria aos seus pés, mergulhou no vácuo, uma queda de dez metros em direção a um lago no centro da terra.


Foi obrigado a livrar-se de quase todo o equipamento que possuía, para não se afogar, manteve apenas as calças impermeáveis, submergiu, tentou perceber onde estava, contudo, a escuridão era avassaladora, ouvia bater de asas no ar. “Então é daqui que vocês vinham.”.


Nadou às cegas, na esperança de encontrar a margem (os lagos internos não podem ser infindáveis, pois não?) dois minutos apenas e as mãos colidiram com uma plataforma, apoiou-se nela, elevou o corpo e sentou-se, tentou recuperar fôlego, estava perdido, no purgatório, quem sabe.


Os olhos não se habituaram à penumbra, ele desejava que o fizessem, mas não, o local onde se encontrava era negro, nada brilhava, estava gelado devido à água, hipotermia era uma hipótese do que o viria a matar ali, nas entranhas do mundo.


Abriu o fecho do bolso lateral das calças e removeu de lá um objeto, ligou-o, a bateria estava fraca, conseguiu perceber estar num túnel ladeado por uma piscina e que os animais alados eram uma constante neste plano existencial.


Foi atingido por um cansaço extremo, (será assim que se sente quem sabe que vai morrer?) fechou os olhos por um instante, ouvido asas a bater, borboletas negras na penumbra debaixo do mundo.


Voltou a abri-los, e tentou caminhar um pouco ao longo do túnel, aguentou a passada por vinte minutos, passou por inúmeras encruzilhadas, é um túnel humano, e não da natureza, uma vez mais a humanidade a conspurcar Gaia.


Olhou para o telemóvel, sem rede, sentou-se, fatigado, já não tinha medo, apenas não queria estar sozinho, não queria adormecer sem ao menos lhe dizer que a amava.


— Madalena! — limpou a lágrima que brotou na vastidão negra dos seus olhos.


Ao fundo, no túnel, uma rosa-branca, incandescente, interrompeu a imortalidade da escuridão.




AUTOR

Carlos Palmito

47 visualizações6 comentários

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6 comentários


sidneicapella
sidneicapella
02 de jun. de 2022

Carlos meu mano, novamente arrebenta!

Show de Bola!

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Luiz Primati
Luiz Primati
02 de jun. de 2022

Carlos conta, encanta, desperta! Cada semana um novo capítulo de um livro se desenha. Tenho o prazer de ler antecipadamente e depois leio novamente no dia da publicação. Carlos, não nos abandone!

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Alessandra Valle
Alessandra Valle
01 de jun. de 2022

Carlos Palmito, seu conto é leitura do meu dia, às quartas-feiras. Obrigada por compartilhar sua escrita conosco.

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Carlos Palmito
Carlos Palmito
01 de jun. de 2022
Respondendo a

ah, e tá quase a saír uma focada nos policias :)

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Carlos Palmito
Carlos Palmito
01 de jun. de 2022

Maravilho-me com este espaço sempre, é uma honra escrever com e para vós. Um abraço enorme para todos

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