AUTOR LUIZ PRIMATI
Luiz Primati é escritor de vários gêneros literários, no entanto, seu primeiro livro foi infantil: "REVOLUÇÃO NA MATA", publicado pela Amazon/2018. Depois escreveu romances, crônicas e contos. Hoje é editor na Valleti Books e retorna para o tema da infância com histórias para crianças de 3 a 6 anos e assim as mães terão novas histórias para ler para seus filhos.
RELATOS DE UM CIDADÃO COMUM
Num sábado cinzento, adentrei o reino reluzente do shopping, ansioso por um refúgio das agruras cotidianas. Atraído pela promessa de alívio, adquiri um par de sapatos, seguido por meias novas e uma calça que se perderá entre as demais no obscuro recanto do meu guarda-roupas. Na loja de eletrônicos, vislumbrei um cabo USB para carregar meu celular, trocando, de forma vã, a película da tela. Buscando um breve alívio, me acomodei em uma cafeteria, deleitando-me com um Macchiato e um Donuts. Porém, o cansaço insidioso tomou conta de mim e, sem demora, me retirei para meu lar desolado.
Sentado no sofá, contemplando as aquisições fúteis diante de mim, a cruel conclusão me abateu: eu não necessitava de nenhuma dessas coisas. A calça, perdida entre as sombras, juntar-se-á às suas irmãs esquecidas. As meias, ainda em bom estado, apenas substituirão suas semelhantes que permanecem intocadas. O cabo para o celular encontrará morada na gaveta do meu escritório, fazendo companhia a outros tantos que ali repousam há tempos imemoriais. E assim, a angústia permeia meus pensamentos, enquanto questiono a razão de tudo isso.
Dizem que essas ações representam uma fuga da realidade, ou a ânsia de preencher um vazio existencial. Mas para mim, tudo se resume ao imenso abismo que se formou em minha vida quando você partiu. Na esperança efêmera de encontrar alguém que possa preencher esse vazio, sigo em frente, sobrevivendo à penumbra da minha existência, mesmo que isso signifique desperdiçar dinheiro em futilidades supérfluas. Somente um amor verdadeiro poderá me conceder a redenção, proporcionando-me o sofrimento inebriante de um coração partido.
Enquanto olho para a televisão, perdido em meus pensamentos, adormeço sem rumo, sem preocupações. Pois amanhã dará início a uma nova semana, na qual apenas buscarei a efêmera felicidade das pessoas que habitam as redes sociais.
Você se identifica nesse contexto?
AUTORA ARLÉTE CREAZZO
ARLÉTE CREAZZO (1965), nasceu e cresceu em Jundiaí, interior de São Paulo, onde reside até hoje. Formou-se no antigo Magistério, tornando-se professora primária. Sempre participou de eventos ligados à arte. Na década de 80 fez parte do grupo TER – Teatro Estudantil Rosa, por 5 anos. Também na década de 80, participou do coral Som e Arte por 4 anos. Sempre gostou de escrever, limitando-se às redações escolares na época estudantil. No professorado, costumava escrever os textos de quase todos, para o jornal da escola. Divide seu tempo entre ser mãe, esposa, avó, a empresa de móveis onde trabalha com o marido, o curso de teatro da Práxis - Religarte, e a paixão pela escrita. Gosta de escrever poemas também, mas crônicas têm sido sua atividade principal, onde são publicadas todo domingo, no grupo “Você é o que Escreve”. Escrever sempre foi um hobby, mas tem o sonho de publicar um livro, adulto ou infantil.
AVÓS
Independente de crença ou religião, todos tivemos avós um dia.
Sei que nem todas as experiências com avós são boas, já que conheci pessoas que não se importavam com seus netos (parece até impossível, mas existem).
Por obra Divina (ou sorte se alguns preferirem assim) fui abençoada por avós fantásticos e gostaria muito de deixar um pequeno relato sobre eles.
Meu avô paterno faleceu quando eu tinha três anos, mas por incrível que possa parecer é que me lembro dele sentado à cama já doente, e depois seu caixão no meio da pequena sala em sua casa. São as duas únicas memórias que tenho, mas me disseram que ele gostava muito de crianças então os poucos momentos, devem ter sido bons.
Minha avó paterna Ilde, era um charme. Sempre bem arrumadinha, com seus cabelos arrumados pelos bobes e o ruge nas maçãs do rosto.
Ela amava ir à praia e ficar sentada na beira da água, onde lá pegava uma cor maravilhosa dando inveja a qualquer adolescente.
Cozinhava muito bem e gostava de variar o cardápio. Passar as férias em sua casa era sinal de que voltaria um pouquinho mais pesada.
O engraçado é que tudo que nos envergonhava quando crianças, passamos a fazê-lo na idade adulta.
Minha avó ia à feira todas as quartas e eu a acompanhava quando ficava em sua casa. Em cada barraca que passava barganhava os preços, dizendo que tudo estava caro e sempre pedia desconto. Nesses momentos eu fingia nem estar perto e hoje faço a mesma coisa, ou pior.
Meus avós maternos Alfredo e Carolina, moravam na mesma cidade que eu, então nos víamos com maior frequência, inclusive porque minha casa era próxima a deles. E fosse a hora que aparecesse por lá, sempre tinha bolacha na lata para os netos.
Meu avô era um descendente de italiano bem típico. Falava alto, gesticulava muito e para quem não o conhecesse bem, poderia inclusive acreditar que era sempre um bronco. Mas conheci poucas pessoas com um coração do tamanho do dele.
Embora tivesse um jeito bruto deixado pela vida, era um doce de pessoa. Quando era perguntado se estava bem, lá vinha a resposta: “Tudo azul de bolinha cor-de-rosa”.
Minha avó, uma senhorinha pequena, cujos netos não tinham dificuldade em ultrapassar sua estatura, era de fala mais mansa. Embora descendente de espanhóis e talvez pelo fato de meu avô já falar alto pelos dois, ela mantinha um jeito mais doce. Mas embora a pequena estatura e fala mansa, ela sabia bem o que queria e fazia seus desejos tornarem-se realidade.
Embora minhas duas avós fossem diferentes fisicamente, quando eu saía com qualquer uma delas, as pessoas diziam que eu era parecida com minha avó e me lembro que as duas ficavam muito contentes com a observação.
Não posso me esquecer de minha bisavó paterna Libera, a qual tive a sorte de conviver até meus dez anos de idade, fazendo com que me lembre bem dela e de seus longos cabelos brancos presos em um coque de trança.
Hoje com minha neta a situação muda um pouco já que ela mora comigo e é necessário que eu ajude em sua educação, não podendo ser aquela avó que permite tudo.
Mas para quem me conhece bem, não é possível que de vez em quando não façamos alguma loucura.
Fui privilegiada por passar ótimos momentos com meus avós e ter muitas lembranças boas.
Hoje sinto saudades, o que é bom, já que saudade é sinal de que o passado valeu a pena.
AUTORA SIMONE GONÇALVES
Simone Gonçalves, poetisa/escritora. Colaboradora no Blog da @valletibooks e presidente da Revista Cronópolis, sendo uma das organizadoras da Copa de Poesias. Lançou seu primeiro livro nesse ano de 2022: POESIAS AO LUAR - Confissões para a lua.
CHUVA
A chuva mansa
Ao bater no telhado
Madrugada à fora
Anuncia que o amanhecer
Será calmo e preguiçoso
Onde os pássaros estarão mais recolhidos
A poeira já abaixou
O sol pediu um descanso
As flores estão se banhando
Céu encoberto e acinzentado
É momento de calmaria
"Deixa chover... assim diz a canção
Vamos mergulhar na paz
Que quer dar as caras e contagiar o coração
De cada um de nós e do mundo inteiro
Vamos sacudir a poeira
Dando lugar ao amor e a vontade
De viver...de deixar acontecer
Tudo que permite nos envolver
Com os prazeres que a vida nos oferece
AUTORA ALESSANDRA VALLE
IG: @alessandravalle_escritora
Alessandra Valle é escritora para infância e teve seu primeiro livro publicado em 2021 - A MENINA BEL E O GATO GRATO - o qual teve mais de 200 downloads e 400 livros físicos distribuídos pelo Brasil. Com foco no autoconhecimento, a escritora busca em suas histórias a identificação dos personagens com os leitores e os leva a refletir sobre suas condutas visando o despertar de virtudes na consciência.
NÃO AMANHECEU AINDA
Abri os olhos e ainda não estava claro. Perguntei-me "será madrugada e a ansiedade me acordara?"
Tentei me aconchegar entre os lençóis e voltar a dormir, mas o brilho na tela do celular me chamou atenção.
Peguei o aparelho e desbloqueei a tela. Algumas mensagens no WhatsApp, nada urgente, alguns vídeos que a correria do dia a dia não me permite baixar e assistir.
Haviam áudios encaminhados dezenas de vezes, os quais também não vou ouvir, pois sei que não são do próprio interlocutor querendo me dizer algo.
A alguns grupos preciso dar mais atenção, como é o caso dos grupos de trabalho, por isso, percebi que haviam áudios longos, com mais de dois minutos.
Na minha opinião, áudio com mais de dois minutos deveriam virar podcast e não serem enviados pelo WhatsApp, mas tudo bem, coloco para ouvir na velocidade 2X e o interlocutor se torna uma metralhadora de palavras.
O problema é que nem amanheceu, não consegui acordar completamente e ouvir tantas palavras céleres ao mesmo tempo me causa confusão mental.
Lembrei que antes de pegar no sono fazia exatamente a mesma rotina, ler as mensagens e ouvir os áudios pelo WhatsApp. Senti-me cansada e ainda nem amanheceu.
Refleti sem colocar em prática: "preciso desconectar, acordar deixando a luz entrar e o dia brilhar".
Yorumlar