Os afazeres domésticos ocupam a vida de Pedro Paulo e, Paçoca, como sempre, dá mais trabalho do que deveria. Enquanto isso um novo personagem aparece para tirar o sossego da família. Acompanhem as aventuras desse homem, dominado pela fêmeas.
Leia, critiquem, comentem!
Luiz Primati
TODAS AS FÊMEAS QUE ME DOMINAM
por Luiz Primati
IG: @luizprimati
O VALENTÃO DO BLOCO 2
Eu tentava limpar o chão da cozinha e Paçoca vinha em cima de mim, com aquele bafo de ração, tentava morder meu pé, pulava feito um coelho.
— Sai daqui, Paçoca!
E ela me ouvia e não me obedecia, até que me irritei e tranquei-a no quarto.
Voltei a limpar a cozinha e Paçoca arranhava a porta, latia, chorava, parecia uma criança sendo maltratada. Continuei a minha limpeza antes que Maria Maldiva voltasse e perguntasse o motivo de eu não ter terminado a cozinha ainda. Ai seria demais. Não queria me indispor com Maria Maldiva. E paçoca continuava latindo.
Terminei de limpar a cozinha e soltei Paçoca que, veio querendo morder meu pé. Foi aí que tive um momento de raiva extrema e passei-lhe um sermão:
— Será que você não consegue ficar 30 minutos, trancada e calada? Eu fiquei 30 meses, preso nesse apartamento, sem ver a luz do sol, com medo da pandemia. Por acaso sabe o que é isso? Claro que não! Você nasceu agora e só quer abanar o rabo, me lamber, comer e fazer suas cagadas em lugares que não deve!
Fiquei mais aliviado. Ela apenas ficou me olhando enquanto eu gritava e quando acabei, lambeu a minha perna e se foi. Que ódio! E o que ganhei com isso? Apenas uma dor de garganta e as janelas dos vizinhos se abrindo com olhos curiosos fitando a minha janela. Pensei em gritar com eles também… “Bando de curiosos! Nunca viram um homem em seu dia de fúria com seu cão?”.
Apenas fechei a janela e voltei para meus afazeres domésticos. Lavei toda a louça, coloquei as roupas para lavar e secar, no ciclo de 4 horas, assim teria tempo para as minhas coisas. Ler um livro, assistir uma série de TV ou até mesmo tentar escrever algo. Maria Maldiva diz que não tenho jeito para escrever. Cada vez que arrisco colocar um texto no Facebook ela me esculhamba, apontando um milhão de erros que eu nem sabia existirem. Maldiva é formada em Pedagogia e nem me arrisco a contestá-la. O que sempre ocorre é que retiro meus textos do Facebook prometendo a ela que vou fazer melhor da outra vez e nunca faço. Melhor eu desistir disso.
Após terminar de trocar os lixos e aspirar o pó, resolvi levar os sacos para a lixeira do prédio. Paçoca olhou para mim e latiu alto, como quem diz:
— Vai me largar aqui sozinha? Deixa a mamãe chegar…
Mamãe? Não sei por que Maria Maldiva diz ser a mãe de Paçoca e eu o pai. Já disse que não sou pai de cachorro e ela me chama atenção dizendo que sou sim e acabo concordando.
— Vamos lá Paçoca. Mas não ouse me desobedecer — disse com o dedo em riste para ela.
Assim que parei de falar ela latiu e trouxe a guia na boca. Foi só colocar nela e saímos.
Desci pelo elevador de serviço para não levar multa. Dois sacos de lixo em uma das mãos e na outra segurava a guia de Paçoca que andava leve e faceira. Conforme avançávamos para fora do bloco, Paçoca cumprimentava os amigos caninos com latidos curtos e secos, e logo chegamos na área da lixeira.
Um homem grande, para cima e para os lados, nos olhou de soslaio. A camisa rosa tentava expulsar os botões para longe e eu só imaginava o momento que eles ricocheteariam na parede em frente. A pança tentava alcançar o chão e o cinto de couro, apertado, mantinha tudo no lugar. Aguardei ele colocar o lixo dele, no lugar. Após terminar, deu um passo ao lado. Olhou para Paçoca e eu, para a lixeira. Quando terminei de colocar os sacos no devido lugar, Paçoca, emocionada com o sujeito grande, ciscou em seus pés e soltou pequenas gotículas de urina. Eu percebi tarde demais e tentei enxugar as gotas com a minha máscara anti Covid.
O sujeito fez cara de furioso, olhou para mim e disse que a Paçoca era igual ao dono: ignorante. Ri pensando na Maria Maldiva. Ele riu também com seus dentes amarelados. Mas espere! Eu sou o dono dela.
“Você é um energúmeno. Pensa que com esse tamanho todo pode me intimidar? Você é grande, mas não é dois. David e Golias: conhece a história?” — pensei. Se ele não tivesse ido embora teria dito tudo isso a ele.
Tratei de sair logo dali, pois, estava com os pés gotejados de urina, a máscara inutilizada, vergonha alheia e Paçoca mais feliz do que deveria.
Chegando no apartamento, encontrei Maria Maldiva que logo me orientou:
— Depois que a máquina desligar, estende a roupa, pois, ela sempre sai úmida. E não lave mais no ciclo longo. Só gasta mais água e energia e não resolve, ok? Paçoca! Vem aqui com a mamãe…
Paçoca pulou sobre Maldiva, lambeu seu rosto; ela sorria. Uma relação de dar inveja… não para mim. Mas resolvi me vingar de Paçoca e fofoquei.
Contei para Maria Maldiva tudo que a Paçoca tinha feito e o que o cara tinha falado. Ela me deu um sermão daqueles e mandou que eu tomasse uma providência, pois, nossa honra fora manchada. Fiquei olhando para Maldiva e Paçoca. Maldiva fez cara de: “Está esperando o quê? Seu inútil!”. Paçoca latiu, adivinhando seus pensamentos.
Respirei fundo e fui lá resolver a situação. Maldiva e Paçoca tinham razão. Quem esse cara pensava ser? Isso não ia ficar assim. Resolvi! Aluguei outro apartamento e em breve nos mudaríamos. No mesmo condomínio, mas para outro bloco. Ao todo tinha 25 blocos no empreendimento. Morávamos no Bloco 2 e agora nos mudamos para o Bloco 23. Para Maria Maldiva eu disse que o sujeito ficou tão envergonhado que me ofereceu um de seus apartamentos para morar sem pagar.
Maria Maldiva só descobriria o valor após 30 dias. Tinha tempo para pensar.
Felizes nos mudamos para longe daquele sujeito e daquela lixeira. Paçoca conheceria novos amiguinhos. Eu teria novas vizinhas e Maria Maldiva, uma nova vista, mais bonita — foi isso que prometi a ela.
Tomara que esses 30 dias demorem a passar.
AUTOR
Luiz Primati
AHAHAH essa paçoca dá que fazer!!!
Estou cansada por você...como trabalhas???
Paçoca faceira, nada faz, só aumenta o trabalho. Fico imaginando ela olhando e latindo educada para os amiguinhos caninos. Mais uma vez, eu adorei e ainda estou pensando no saco de lixo, paçoca e ainda por cima, encontrar um gigante mal humorado!!! 😊🙃
hm, vai dar asneira... fugir dos problemas não é resolver problemas :) alem que assim perdeste a vista para a janela do andar da frente, que não me recordo qual era, a do casal nu
O seu conto me fez lembrar do filme “Um dia de Fúria” Michael Douglas. Tem dias que é osso! Quando o assunto é osso a paçoca entende… pois, foi ela que começou a confusão. KKKKKKKKKKK Ótimo Conto! Amigo Luiz. Que venham mais!