Nosso personagem hoje conta de seu encontro com a morte.
Luiz Primati
TODAS AS FÊMEAS QUE ME DOMINAM
por Luiz Primati
IG: @luizprimati
OS MORTOS
Hoje a paçoca acordou atacada pelo vírus do latido. Depois do café da manhã, fui para o meu escritório e deixei minha cachorra na sala. Apenas uma porta de vidro nos separava. Ela me olhava de forma a não entender o motivo de nossa distância. Já tentei deixá-la comigo e todas às vezes que cometi esse ato de bondade, Paçoca entrou e urinou no tapete de meu escritório. A minha mulher alega que ali, naquele tapete felpudo, paçoca se sente num gramado e faz suas necessidades. Mas isso é mentira! Nenhuma cadela urina num gramado, pois ao agachar, a grama espeta suas partes íntimas e ela não gosta disso. Ela urina no meu tapete para marcar seu território e não me diga que isso é apenas atitude de macho. Minha cachorra deve ser trans, pois não perde a oportunidade de marcar seu território. Odeio isso. E ela faz o mesmo no meu banheiro. Será que o problema é comigo?
Aqui no meu condomínio nada acontece. É sempre a mesma coisa. Teve um sábado que foi diferente. Era umas 23 horas. Fui até a cozinha tomar água. Ao me aproximar da lavanderia olhei para o bloco vizinho. Quando vi a cena tive que esfregar os olhos, incrédulo. No apartamento do quinto andar, na cozinha, um homem e uma mulher desfilavam nus. Acabaram de fazer sexo naquele instante e exibiam seus corpos perfeitos. Ela era morena e tinha as curvas perigosas. Ele andava com a coisa solta e fiquei acanhado com o tamanho de seu membro. Por que Deus distribuía de forma desigual os membros masculinos? — pensei e me revoltei. Logo minha esposa se juntou a mim e ficamos ali assistindo o desfile dos 2 jovens pela cozinha. Pegavam algo para comer, conversavam, se acariciavam até que o segundo tempo do sexo chegou e logo desapareceram de nossas vistas. Para meus amigos não dizerem que inventei, fotografei a moça, é claro.
Teve outro dia que foi bem agitado e nesse dia um homem se atirou da janela do quinto andar, mas eu não quero falar sobre isso hoje. Foi bem traumatizante. Esse fato me fez lembrar do meu amigo que partiu recentemente e que ajudei a enterrar. No sentido figurado, pois não enterro ninguém, nem as mágoas do passado. Sou muito passional, guardo as coisas boas com ardor e as ruins com mais emoção ainda. Mas no dia em que meu amigo foi sepultado, acompanhei o féretro até a sua sepultura. Chegando no destino, os coveiros abriram a tumba, ajeitaram os ossos dos falecidos anteriores e depois enfiaram o caixão do meu amigo tumba adentro. Fiquei ali junto aos seus filhos, olhando o trabalho dos coveiros. Sob os olhares dos curiosos, colocaram uma fileira de tijolos, untaram com cimento até fechar a tumba por completo. Depois fizeram um acabamento e o trabalho estava finalizado. Enquanto eles faziam isso, esperava que uma mulher apaixonada, amante talvez, surgisse do meio das árvores e tentasse abrir a tumba com as mãos, chorando e gritando. Sei que não acreditam, mas existem árvores, sim, nos cemitérios. Nada disso aconteceu. Apenas os galhos das árvores balançavam.
O transe foi rompido pelos latidos de minha cachorra. Olhava-me com estranheza, pelos caindo sobre os olhos, um andar inquieto e muita revolta. Estou só imaginando o dia que essa cadelinha menstruar e virar uma cachorra adulta, meu Deus, quem é que vai segurá-la?
Perguntaram-me esses dias qual era a raça da minha cachorra e respondi:
— Chatsza!
— Ãh? — respondeu a pessoa confusa com minha resposta.
— Esquece! Shih-Tzu — falei e ela sorriu. Paçoca me olhou e latiu.
AUTOR
Luiz Primati
Muito bom!!!!
"Chatsza" foi ótimo kkkkkk. Teu apartamento tem uma vista interessante
Ao terminar de ler o texto, veio a expressão na minha mente: “fulano de tal é o cara” pensei na cachorrinha: “Paçoca é a cachorra.”
Esse quinto andar... casal com sexo aditivado, e um saltador de janelas :) que mais vai acontecer?