Pedro Paulo, personagem dessa saga, têm embates diários com todas as fêmeas. Na sua visão todos o odeiam e ele retribui na mesma moeda. Hoje saberemos um pouco sobre a sua cachorra: Paçoca.
Luiz Primati
TODAS AS FÊMEAS QUE ME DOMINAM
por Luiz Primati
IG: @luizprimati
PAÇOCA
Depois da minha mulher, o que mais me irrita é a minha cachorra. Ela começa a latir logo que dou os primeiros passos no quarto. Por mais que eu levante pé ante pé, ela percebe. Às vezes acordo com sede lá pelas tantas da madrugada e lembro da minha cachorra. Meu Deus! Como farei para tomar água sem ela acordar e transformar minha vida num inferno de latidos e uivos infinitos? Para isso bolei uma estratégia: deixo uma garrafa d’água no meu escritório. Levanto lentamente, abro a porta do quarto que, range, sempre range e vou descalço até meu escritório. Para não fazer nenhum ruído desnecessário, bebo a água na garrafa mesmo. Se colocar no copo ela pode ouvir as gotas caindo e acordar. Enquanto faço isso rezo para a Santa Protetora das Cachorras e peço que faça ela dormir profundamente, pelo menos até eu conseguir retornar para minha cama.
Quando chega a hora fatal e sou obrigado a me levantar, já penso em como vou fazer para que ela não morda a ponta dos meus pés e nunca tenho êxito. Basta abrir a porta da cozinha e lá vem Paçoca com o rabo abanando feito um limpador de para-brisa, alegre, pulando e tentando morder meus dedos dos pés. Ela pula para um lado, eu salto para o outro e num balé descompensado, salvo meus dedos de algumas dentadas e em outras ela obtém sucesso. Nunca é forte, mas é irritante. Minha cachorra me irrita.
Depois que venço a primeira batalha, empurro-a para a lavanderia até ela ficar dominada, num canto, olhando-me e aguardando o café-da-manhã. Pego o saco de ração, a balança de precisão e meço exatos 12 gramas da mais pura ração canina. Aquele cheiro me causa náuseas e não entendo como ela gosta daquilo. Ah! Se ela conhecesse uma lasanha, uma parmegiana, um bife de panela. A ignorância amansa a alma dos animais que seguem felizes com seu quinhão. Enfim, parando com essa palhaçada toda, quando ela ouve os primeiros grãos de ração caírem na vasilha plástica, uma euforia cresce dentro dela. Começa a pular descontroladamente de um lado para o outro, latir e saltar. Parece que uma entidade baixou em seu corpo e só consigo controlá-la com muitos gritos de “fica quieta” e uns empurrões com os pés. Quando a ração toca o solo com a vasilha rosa, ela salta como um gato sobre ela e devora em segundos. O veterinário me deu uma dica de espalhar a ração pelo chão para ela demorar mais a comer. E faço isso escondido de minha mulher. Quando contei da ideia do veterinário ela me xingou até eu me calar, mesmo que eu só a escutasse. Concordei com ela e de birra, faço isso escondido. Jogo a ração para todos os cantos da cozinha e ela fica lá caçando cada grão.
Em outros momentos ela é até meiga, se esfrega em minhas pernas, pede por carinho e acabo fazendo, mas só um pouquinho. Não gosto de ficar muito tempo com ela, principalmente se ela resolve me lamber e ela me lambe o dia todo. Que coisa odiável. Cada passo que dou ela se aproxima e dá uma lambida na minha perna. Que nojo! Desculpe, mas não gosto disso. Minha mulher diz serem "lambeijos" e para mim, é um monte de saliva que gruda na minha pele.
Passar pano para limpar suas pegadas de urina é outro drama. Minha cachorra urina no tapete higiênico que não faz jus ao nome. Após suas necessidades, Paçoca pisoteia a urina e sai espalhando por todo o assoalho. Sou obrigado a pegar um pano de chão, umedecê-lo e passar sobre seu caminho molhado. Paçoca pensa que quero brincar e se atraca com o pano de chão. A cada movimento de um lado para o outro, além de arrastar o rodo, tenho que esforçar-me e arrastar Paçoca junto. E fica aquele vai e vem de cachorro pelo chão da casa, até que me irrito e bato no seu corpo com o pano de chão. Ela se afasta, olha-me com uma cara de interrogação e eu sigo. Logo ela esquece e novamente tenta se atracar com o pano de chão, morder os dedos de meus pés ou lamber qualquer parte de minhas pernas.
A troca do tapete higiênico de Paçoca é outra aventura. Quando tiro o tapete urinado e tento colocar o novo, ela pensa que quero brincar e fica tentando morder o tapete. Com as mãos mantenho Paçoca longe, sempre a intimidando com gritos e comandos caninos que, na maioria das vezes, não funciona. Sendo bem sincero, nunca funciona. Daí me irrito, tranco-a na cozinha até conseguir esticar o tapete higiênico. Depois inverto e tranco-a na sala para colocar outro na cozinha.
Esse é o meu dia a dia com Paçoca e ela me irrita muito. Aliás, enquanto relato isso, ouço-a chamando por mim. O que terá aprontado agora?
AUTOR
Luiz Primati
Paçoca, que nome sugestivo!!!
Ri demais, você tem uma escrita cômica sensacional Luiz, essa cachorra é demais de serelepe 😂Ela te ama demais 😍
🤣 a verdadeira cadela dos infernos