Pedro Paulo e Paçoca sentem os efeitos da solidão e do inverno chegando.
Leia, critiquem, comentem!
Luiz Primati
TODAS AS FÊMEAS QUE ME DOMINAM
por Luiz Primati
IG: @luizprimati
CHAMA O SÍNDICO
Passado um mês sem Maria Maldiva e minha sogra, eu e Paçoca aprendemos a nos organizar e manter tudo em ordem. Não está sobrando dinheiro para eu pagar a Marinalva. Maria Maldiva diz que sua mãe está dando muita despesa e estou enviando mais dinheiro para elas. O que era reservado para a faxina não existe mais. Os banhos da Paçoca sou eu que dou. O açaí do final de semana fora substituído pelo guaraná. Os quitutes de Paçoca não dá mais para comprar e ela vai roendo o pé dos móveis. Vai ser um problema quando minha sogra retornar e tomara que isso demore a acontecer. Enfim, aprendendo a me virar.
Junto a tudo que acontece, chegou o frio, de supetão, sem avisar. Pensei que o inverno chegara e que tinha me perdido no calendário. Era somente uma frente fria que, bastava, para que eu e Paçoca ficássemos sob as cobertas. Mais tempo ocioso, mais TV e séries para assistir, mais tempo para a Paçoca correr atrás do rabo. Essa distância de minha esposa e sogra está me deixando também com mais tempo livre para pensar e lembrar do passado e isso me faz bem.
Comecei a pensar sobre tudo que ocorre aqui no meu condomínio… Você que me lê agora, mora em condomínio? Alguém que mora em condomínio, poderia me dizer se existem pessoas por aí que odeiam o síndico? É, por aqui tem bastante. É isso mesmo que eu disse. Aqui as pessoas odeiam o síndico. Ficam falando mal do síndico no grupo de WhatsApp. Eu não maldigo do síndico e não o odeio. A diversão das pessoas é maldizer do pobre coitado. Basta ter algo que eles considerem errado, para começarem a questionar. Por que ele autorizou fazer aquela reforma? Quem vai pagar a conta? Alguém está lucrando com isso? Essas são as conversas mais frequentes. Reclamam que o valor do condomínio está muito alto, que o síndico não mora no prédio e assim mesmo tem regalias e por aí vai. De tempos em tempos acontece isso. Basta alguém fazer alguma reclamação e lá vem mais 34 acabando com a reputação do síndico. Eles nem investigam a fundo o que realmente está acontecendo. A função deles é apenas criticar. E olha que eles criticam demais. Então pergunto, vocês conhecem pessoas assim? Existem pessoas que pensem dessa forma no condomínio onde vocês vivem?
Paçoca latiu, pois, eu fiquei paralisado, lembrando disso tudo. Imagino que ela ficou com medo que eu tivesse tido uma parada cardíaca e morrido. Tadinha. Não teria como sair e morreria com o seu dono, fiel…
Nem terminei meus pensamentos e Paçoca latiu alto. Deve ter lido meus pensamentos e se revoltado. Eta cachorra esperta…
Falando em síndico, lembrei do Tim Maia. O Tim Maia foi síndico realmente, sabiam? Tem várias histórias de um livro sobre ele: “VALE TUDO”, escrito por Nelson Motta. Recomendo, o audiolivro, excelente. Nelson Motta imita a voz do Tim Maia de forma idêntica, pois, conhecia muito a vida do cantor, em detalhes que a maioria duvidaria. Entre tantas histórias, Motta conta o caso de quando o Tim Maia gravou uma música com a Gal Costa, nos meados dos anos 80. Gal estava se destacando no cenário nacional, e Tim também era uma estrela. O fantástico, resolveu embarcar na fama dos dois e gravar um clipe, logo que soube que eles gravaram uma música juntos, porém, sem se encontrarem. Já explico.
Tim Maia era apaixonado por Gal Costa e ela, apaixonada pela voz dele. Tim sempre dizia que seu sonho era se casar com Gal Costa e bastaria ter a oportunidade de estar ao seu lado para que seu sonho se realizasse. Quando recebeu o pedido para gravar junto dela, o que parecia um sonho, se transformou num pesadelo. Michael Sullivan e Paulo Massadas criaram o hit “Um Dia de Domingo” e Gal resolveu colocar em seu disco. Porém, Gal resolveu gravar a sua parte sozinha e a gravadora enviou para que o Tim Maia colocasse sua voz em cima. Nem é preciso comentar que Tim Maia se revoltou demais. Queria gravar no estúdio, junto de Gal, o que não ocorreu. Após muitas brigas com a gravadora, finalmente a música seria lançada e foi aí que o Fantástico entrou. Um dueto entre Gal Costa e Tim Maia onde cantariam “Um dia de Domingo” para milhões de pessoas.
E, nessa altura, Tim Maia foi todo ansioso para a gravação lá na Globo. Finalmente iria cantar com Gal e vê-la bem de perto. Gal Costa não apareceu. Ela teve um problema com seu vestido, por isso, não foi, avisando de última hora. Tim Maia que já estava pronto para a gravação, ficou muito irritado, xingou muito a Gal Costa e disse que não iria mais gravar nada.
Na semana seguinte a gravação foi re-agendada e lá estava Gal, esperando que Tim chegasse. E dessa vez ele é que não foi e mandou que avisassem para a Gal que o vestido dele também não ficara pronto. Bem, para resumir, depois de tantos atritos, finalmente a gravação saiu e foi um dos maiores sucessos da música romântica. Tim Maia não conseguiu se casar com Gal Costa como planejava e o que sobrou foi o sucesso da parceria.
Paçoca novamente latiu e acabei saindo do transe. Tinha que levá-la para passear e fazer cocô. Parecia ouvir minha mulher gritando: Pedro Paulo, hora do cocô. Que inferno Maria Maldiva invadindo assim meus pensamentos… Não posso nem pensar sossegado no meu passado, que logo vem a chata da minha mulher encarnando na cachorra para me atormentar.
— E você não me olhe assim — disse para Paçoca. — Sei bem no que está pensando…
Ela me olhou cismada e depois latiu, ainda sob as cobertas. Eu não sabia o que ela estava pensando e nem ela mesma.
— Vamos, Paçoca! Vamos dar uma volta.
Aproveitei e fiquei mais de 1 hora passeando com a Paçoca pelo condomínio. Nesse momento a gente se sente importante. As mulheres se aproximam dizendo:
— Que cachorrinho lindo, como é o nome dela? Ela morde? Posso passar a mão?
Fico todo orgulhoso de Paçoca, mesmo que por trás vivamos nos desentendendo. É bom curtir esses momentos de atenção e também é bom ficar um pouco longe de casa, longe da minha mulher, longe da minha sogra. Longe dos problemas, pelo menos por algum tempo.
Paçoca latiu novamente e dessa vez era para eu recolher seu cocô. Essa é a parte que detesto e sempre penso em comprar uma fralda para colocar na Paçoca. Ela me olhou feio, rosnou e depois latiu brava. Será que deu para ler pensamentos?
AUTOR
Luiz Primati
Muito Bom Luiz!
A Paçoca é uma cachorra vidente!
Mano, Imaginei a cena! O Tim Maia, tomando um bolo da Gal.
rsrsrsrsrsrsrsrsr
Luiz, adorei a leveza de sua escrita. Sorri, da Paçoca sem os quitutes e danificando as madeiras dos móveis da sogra do Pedro Henrique.
Sorrindo... Eta cachorra esperta... parece que estou ao vivo escutando essa frase! Não sabia dessa paixão do Tim Maia pela Gal Costa, que interessante. Fico a imaginar a liberdade do Pedro Henrique e da Paçoca...enfim sós!!! Parabéns pela forma maravilhosa de escrever.😊
Obrigado a todos que leem as histórias de Paçoca.
Luiz Primati, não deixe de nos presentear com suas crônicas. Eu já estava com saudade de ler sobre o cotidiano tão humano e real de Pedro Paulo. Paçoca dá vida e alegria a essas estórias. Adorei a leitura. Parabéns. ✍️👏👍