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REFLEXÕES Nº 17 — 24/04/2022

Leia, Reflita, Comente!


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DEVANEIOS SUFOCADOS


por Miguela Rabelo

O sol se põe e ela se espreme na última lotação daquele dia a caminho de sacar do saldo que não mais lhe pertencia...


No caixa a atendente lhe oferece um bolão do próximo sorteio e ela pensa — nessa não caio mais… — no entanto, responde educadamente: — hoje não, obrigada.


Para economizar, volta o restante do caminho a pé, sentindo a suave brisa quente que banha seu rosto já sufocado pela máscara, que ela arranca e embola junto ao bojo do seu vestido... e assim continua caminhando e divagando na vida que poderia ter levado e dado certo e nos inúmeros se's de uma história que parece o avesso de tantas outras...


Passa na porta da sorveteria perto da sua casa, e lembra o quanto era viciada em tomar diariamente um copinho... e como talvez essa compulsão contribuiu no seu naufrágio... fora os demais inúmeros percalços.


Então ao caminhar cabisbaixa, sua instrutora da auto escola passa e a cumprimenta... e mais uma vez sente a garganta apertar, o sapato já gasto raspar em seus pés... e ela pensa... que talvez e mais uma vez deu um passo em falso na tentativa de realização de mais um sonho que mais parece um abismo que ecoa seu nome, enquanto ela caminha rumo ao precipício...


Ao se aproximar do condomínio onde mora, lembra que não tem comida pronta, então pensa em passar no empório e comprar pães, hambúrgueres, chocolates e uma cerveja, por que não? Hoje era um dia de "folga" para ela..., mas lembra que já estava no negativo, e precisava esconder os cartões de crédito que já estavam consumindo quase a metade do seu salário... então ao se aproximar da portaria, encontra um rapaz revirando o lixo... e assim se envergonha de todas as lamentações... E acredita que naquele instante ele tem mais coragem e disposição que ela.


Chegando ao seu lar, percebe o caos que estava a sua espera... então, põe o feijão para cozinhar, coloca a carne para descongelar, lava as louças e pensa: pelo menos amanhã economizo a grana do almoço. Então lava todas as louças, enquanto cozinha, limpa a casa e joga o lixo fora.


Então termina de fazer sua janta e vai tomar seu banho. E então a água fresca cai em seus cabelos e por todo seu corpo, levando e lavando à aquele cachoeira escarlate que escoa pelo ralo, ela pensa porque escolheu dar errado na vida? Por que não tentou estudar direito, administração, medicina, veterinária? Por que cargas d'água inventou e quer ser artista, poetisa ou demais i's?


Pensa que seus pais deveriam tê-la interditado, pois se viver é uma arte, sobreviver é uma guerra. E infelizmente ela não nasceu com as armaduras para essa batalha... seu coração é feito de pena com as pontas molhadas de tinta, onde grava as impressões que tem da vida que lhe cerca. Seu cérebro é macio como um colo quente de afeto por tudo aquilo que lhe conecta com sentimentos recíprocos, se doando em ajudar aqueles que dela se aproximam... seus olhos têm a compulsão de registrar toda a beleza que por eles é despertada.


Por isso ela se reconhece desconexa de todo universo que a rodeia... então assim, ela tem dias, momentos que simplesmente pensa em sumir… mas sabe das suas prioridades e propósitos. Então queria fazer como aqueles personagens de alguns filmes que acendem um cigarro, dão uma tragada e transformam todos seus problemas em uma fumaça densa, cinzenta e amarga..., mas ela nunca quis fumar... então pensa de novo em ir tomar o sorvete de chocolate..., mas lembra no segundo seguinte que não pode... então sente pesar de saber que seus sonhos mesmo sendo combustível para sua persistência em teimar na vida, também são de certa forma um abismo que tenta engoli-la a todo instante... Assim, enquanto ela desmaia na cama a espera de um grande dia de encontro a mais um sonho... ela olha a corda... e...


Acorda para mais um dia enforcado entre o combustível salgado e o eco do precipício.




ECOS


por Ipê (Odilon Azevedo Filho)

Entre paredes

os gritos ecoam.

Vontade da solidão

de se escutar.


Em um vão

os sons se repetem.


E vão ficando

cada vez mais baixos,

até o silêncio predominar.

Então o silêncio toma conta

e não à toa,

diz finalmente,

quem é quem manda

nesse lugar.




NÃO CONHEÇO


por Arléte Creazzo


Continuando sobre celebridades, passo a acreditar que o número de celebridades hoje em dia, é maior que a população de minha cidade, e isso faz com que eu não conheça quase nenhuma.


Assistindo ao programa “Canta Comigo” apresentado por Rodrigo Faro (esse eu conheço), vejo rostos totalmente desconhecidos. Ao ler o nome da pessoa não identifico, e muitos deles são cantores.


Então me recordo do tempo em que ao ouvir uma música no rádio, identificava cantor (a), música e muitas vezes o compositor.


Não sei se hoje o que diminuiu foi minha percepção ou meu interesse pelos novos "artistas".

Talvez no passado valesse a pena saber quem cantava.


Hoje o meu interesse em saber quem canta, é para não ouvir novamente.


Sei que estou sendo dramática e que gosto é igual a toba, cada um tem o seu.


Costumo dizer que gosto não se discute, mas mal gosto a gente reclama.


Nunca fui exigente a nada, mas a idade nos permite sermos mais seletivos.


Não conheço a maior parte dos novos artistas, mas não critico antes de pesquisar seus talentos.


Muitos do "Canta Comigo", são realmente artistas fantásticos, mas alguns dos que estão julgando os participantes, poderiam trocar de lugar.


O Brasil é um país repleto de talentos, que infelizmente continuarão no anonimato por não dizerem bobagem ou rebolarem com roupas diminutas.


Não somos pobres de talentos, somos pobres de escolhas.




A CRIANÇA QUE HÁ EM NÓS


por Luiz Primati


— Mateus, olha o que o vovô pegou para você... — disse ao meu neto, escondendo de suas vistas, oculto em minha mão, algo que peguei no parque do condomínio onde ele mora.


— O que é vovô? — disse Mateus animado, tentando ver por entre meus dedos.


— Uma semente! — disse eu triunfante.


Mateus pegou aquela semente em formato oval e observou. Grande, dura, cor marrom. Não entendeu muito bem o que era aquilo. Para mim era um retorno para minha infância. Para ele, algo inanimado. Passei a relembrar o passado.


Por diversas vezes me pego em pensamentos que me remetem à momentos felizes de minha infância. Brinquei demais, me dediquei tempo suficiente ao ócio, explorei o mundo como um gato curioso.


Não há um dia em que eu não me lembre de algo que fiz e cite como exemplo na vida atual. Era uma época mágica, onde o tempo estava a nosso favor. Os dias pareciam se estender por infindáveis horas. Quando eu me deitava no quintal e olhava para as nuvens, eram horas vendo os maços de algodão formarem bichos, objetos, cenas. Eu ficava tentando decifrar a próxima imagem que o vento ajudaria a formar. Era aí que eu pensava sobre o universo, Deus, eu, minha missão nesse planeta. Um ócio que não temos mais. Esse tempo me fez aprender sobre mim mesmo, filosofar sobre todas as coisas, entender um pouco sobre como o universo funcionava.


As brincadeiras também eram importantes: empinar pipa, soltar balão (naquele tempo não era proibido), rodar pião, bolinha de gude, bets feito do bulbo do bambu (também conhecido por taco), pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, pula-corda e mais uma dezena de brincadeiras de rua. Essa era a minha cultura.


Comecei a imaginar eu e meu neto num diálogo sobre o assunto. Eu contei a ele sobre tudo o que vivi na infância e ele me questionou:


— E o que temos hoje, vovô? — perguntou com certa apreensão.


— Crianças sem tempo, com hora marcada, sem tempo para o ócio. Não precisam de tempo para pensar em nada, pois, nós adultos já pensamos em tudo. Hora de acordar, de tomar café, de escovar os dentes, de ir para a escola. Hora de almoçar, de brincar, de assistir TV, da soneca da tarde. Hora do lanche, de brincar mais um pouco, de tomar banho, de jantar, de dormir.


— E a hora do ócio? Não era "da hora" olhar para as nuvens? — disse meu neto com dúvidas sobre a cabeça.


— Não ouviu? As crianças não precisam mais disso. Já sabemos tudo que é certo para vocês. Apenas obedeçam.


— E se eu quiser me tornar um pensador, um "fisólofo"? — questionou meu neto. Segurei o riso.


— Filósofo... também já pensamos nisso. Não há necessidade. Tem muito "vagabundo" nesse planeta fazendo isso por você. Precisa se tornar uma pessoa de bem, de valor, precisa contribuir para o mundo. Seja produtivo!


— Eu quero ser produtivo de outra maneira. Quero acordar no meu tempo... quero brincar quando tiver vontade, quero olhar para o céu como você fazia. Quero explorar o mundo e decidir o que vou querer ser quando crescer.


— Mas que bobagem... A minha geração já fez isso por você. Mapeamos tudo que vocês precisam. Estamos ganhando tempo, fazendo coisas de 10 anos em apenas um. É a vantagem da experiência, da tecnologia. Veja como os nossos widgets, esses aparelhos eletrônicos que inventamos, ajudam você a ser uma pessoa melhor, mais organizada, mais assertiva! O tempo todo estamos sendo lembrados dos horários em que devemos fazer as coisas, não precisa perder tempo tentando descobrir. Os estudos universitários nos diz qual o melhor horário para brincar, estudar, ver TV, dormir. Sabemos quais alimentos devemos consumir, em que quantidade, em quais horários. As disciplinas escolares foram sintetizadas e você só aprenderá o essencial. Não temos mais tempo para lermos sobre coisas inúteis. Aliás, nem ler é mais necessário. Basta ir para a escola ou trabalho com os audiolivros. Pode escutar a TV enquanto brinca. Assim faz duas coisas em simultâneo.


— Mas vovô, essas brincadeiras que me contou eu nunca vi. Só empinar pipa, que meu pai chama de "papagaio".


— Ah! Você fala de rodar pião, por exemplo?


— Isso! E as outras também — meu neto tinha um brilho no olhar.


— Esqueça. São nocivas. Rodar pião é muito perigoso. Aquele prego na ponta do pião, se pega no olho de alguém, pode cegar. O pião mesmo é de madeira bem dura e deixa hematomas no corpo. Soltar balão é proibido. Pode causar incêndios, destruir fábricas, plantações. Bola de gude é de vidro, bem pequena e se a criança engolir, pode ter uma parada respiratória. Amarelinha mostra o conceito de céu e inferno e isso não existe. Bets pode se tornar uma arma nas mãos das crianças, caso resolvam brigar. Enfim, acredite nos adultos, essas brincadeiras não devem ser mais lembradas.


Nesse momento meu neto baixou os olhos, apertou a semente que eu lhe dera na sua pequena mão e sentou-se no chão. Pegou um caminhão de plástico, réplica perfeita de um que seu pai tem de verdade e passou a empurrá-lo no chão, de um lado para o outro.


Meus olhos se encheram de lágrimas e comecei a pensar o quanto estava sendo egoísta. Guardava a minha infância perfeita na memória, imaculada e desejava que meu neto tivesse algo completamente diferente. Oras, se minha infância fora perfeita, por que não serviria para ele?


Porque a sociedade não queria? Porque os pais não queriam? Porque o mundo não queria? Se temos tanto orgulho de nossas raízes, por que não valorizamos isso divulgando e tornando-as reais?


Foi por um momento que esqueci de tudo que estava dizendo a Mateus e mudei tudo.


— Mateus? Quer saber de onde veio essa semente?


Ele largou o caminhão na hora e veio até mim.


— Quero sim. Você me mostra? — sorriu Mateus.


Sem dizer nada, dei a minha mão para ele segurar e sai para passearmos. Avisei para a minha filha que já voltaríamos e fomos em direção ao parque. No caminho expliquei para Mateus que aquelas sementes ficavam escondidas no topo das árvores e, quando chegava o outono, as cascas se abriam e de dentro caia um helicóptero. Dentro desse helicóptero tinha essa semente. Ele ficou animado com minha história.


Divertimo-nos pegando os "helicópteros" que caíam das árvores e colocamos tudo dentro de uma sacola. Quando voltamos para casa, sentamos no chão do quintal e abrimos aquelas folhas para recolhermos a semente oculta. Depois peguei um pano e dei um brilho nas sementes. Mateus arrumou um pote plástico e contamos 22 sementes dentro dele. Saiu feliz pela casa chacoalhando o pote e mostrando para a sua mãe o nosso feito.


Numa hora dessas as sementes devem ter ido para o lixo e o pote plástico retornado para o armário. Mas, o mais importante desse episódio, foi a memória que aquelas sementes provocaram, arrumando uma "caixinha" no cérebro de Mateus para guardar essa lembrança por toda a vida.


Passei momentos inesquecíveis com Mateus que, tenho certeza, que, quando eu morrer, ele estará ao meu lado no caixão, balançando seu pote plástico imaginário com as 22 sementes.



O diálogo com meu neto não existiram e não penso assim sobre as brincadeiras de infância. No entanto, sei que existem vertentes alarmistas que defendem a extinção dessas brincadeiras. Sobre as sementes e nossa aventura, foi tudo verdade.




PEDIDOS DA ALMA


por Antônio Carlos Machado


De mim, faça o que é preciso, ainda que não saiba.

Discuta seus anseios, mas não me negue suas dúvidas

Entoe um mantra impronunciável, mesmo que seja um palavrão.

Renuncie ao passado, este mesmo que lhe trouxe aqui.

Voe sem asas para esse desconhecido que é você e me encontre no chão, estatelado ou triunfante como um pardal

Mostre-me um caminho que ainda não percorreu, siga por ele.

Volte atrás para voltar sem volta.

Aprenda a me ensinar com meu quintal.

Ganhe louros e faça um chá.

Resulte em nada para ser mais.

Bata até ficar suave, a sua diária mistura

Cego de amor me enxergue entre as suas dores e inda assim me ame

Me iluda com a sua realidade.

Nutra-se do meu saber inconsistente.

Vá ter com seu sonho enquanto a vida te cobra outra realidade.

Perdura aqui nesse instante e esqueça outra vez que me viu.

Faça de você, outro eu.

Veja meu sorriso quando estiver longe.

Carregue a minha sina e deixe a sua aqui.


INCERTEZA


por Joana Pereira IG: @temjuizo_joana


Pus-me a pensar no que se traduziria a maior causa de ansiedade de todo e qualquer comum mortal, e cheguei à conclusão que é, com certeza, a incerteza. O que será pedirmos um prato cheio e comê-lo às cegas? O que será termos de dar um passo num chão movediço?


A incerteza é este frio na barriga quando ansiamos por bons resultados, quando colocamos muita expectativa no futuro. A incerteza é cruel, mas é a que nos faz desfrutar mais do presente, porque o presente, sim, esse é certo.


Difícil isto de sermos agarrados ao futuro, na ansiedade de que tudo corra como planeámos, com pensamentos a mil kilometros-hora que nos colocam uns tempos mais à frente, impedindo-nos de apreciar o aqui e o agora.


Vivemos neste dissabor de querermos que as incertezas se tornem certezas, quando tudo o que é certo… menosprezamos.


Seremos merecedores de um futuro, quando não sabemos viver o presente? É que a vida passa e o futuro, rapidamente, se torna presente e as incertezas, certezas. De que nos vale? Se continuamos a tratar mal o presente com medo das incertezas paridas no futuro?


A incerteza é uma dádiva para o crescimento, para a reflexão, para nos desafiarmos. A incerteza surge para nos deleitarmos com o que é certo, exato e só o é… no agora.


No entanto, preferimos prosseguir assim, entre agoras e depois, entre rodadas de ansiedade e de incertezas, até à última rodada… onde já não há mais futuro por viver e a única certeza foi a morte.




DEIXANDO DE LANÇAR DADOS MENTAIS


por Alessandra Valle


Não é tarefa fácil perdoar, mas também não é impossível.


Quando nos envolvemos em uma situação que nos frustra, magoa ou incomoda, nossos pensamentos se afinam com emoções de ódio e tristeza, criando um estado de perturbação mental.


Criamos diálogos mentais diferentes de como poderíamos ter reagido ou ficamos revivendo mentalmente a situação frustrante.


O desequilíbrio provocado, em um contexto amplo, atinge desde a saúde física até as relações pessoais.


Familiares e amigos costumam se afastar de quem está sofrendo por não perdoar, por isso, esse contexto triste atrai outro, ainda pior e de grande intensidade, a solidão.


O ser imperdoável costuma apresentar posicionamentos rígidos diante da vida, tudo o incomoda e lhe gera um desgaste físico e emocional, ficando cada vez mais difícil apreciar os momentos.


Os comuns e habituais “deixa pra lá” ou “vem curtir” são tarefas árduas que o impiedoso não consegue colocar em prática, pois na maioria das vezes ele prefere “alugar os ouvidos” daqueles que se aproximam com suas lamentações e aproveita a oportunidade para continuar a “lançar dardos mentais” na direção daquele que não perdoa.


Certa vez, senti esse processo na carne. Foi doloroso, pois percebi que só odiamos aqueles que um dia amamos. O inimigo de hoje foi o amigo de ontem. O imperdoável hoje foi o tolerável de outrora.


E para não transformar o amigo, o amor, o irmão em inimigo, precisei de muitas coisas.


A primeira delas foi de um alvo para eu lançar muitas vezes os dardos até me desgastar fisicamente e dissipar a energia proveniente da emoção de raiva aprisionada na minha mente.


As outras ações necessárias para me desligar do círculo vicioso consistiram em relembrar e estudar os ensinamentos do Mestre Jesus, tais como: “Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque obterão misericórdia.” “Não vos digo que perdoareis até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” “Reconcilia-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho... Digo-vos em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil.” “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz com que se levante o sol para os bons e para os maus e chova sobre os justos e os injustos.”


Muito agradeci através de preces todo esclarecimento que obtive ao despertar minha consciência para o estado obsessivo em que me encontrava por não perdoar, mas também muito pedi a fim de que não me faltassem forças, fé e coragem para vencer a mim mesma nesse processo.


Por último, e não menos importante, a virtude da amorosidade precisava estar desperta, então, me coloquei em prática através da constância do relacionamento com aquele a quem, na verdade, amo e nunca odiei.


Será a última vez que ficarei magoada ou frustrada nessa relação? Tornei-me santa? Resposta óbvia a todas as perguntas: não.


Entretanto, agora, mais desperta, conhecendo-me, percebo que cobrei sempre por meus atos de gratidão e exigia reconhecimento quando, na verdade, precisava deixar livre e ser exatamente como é.


Perdoei e parei de lançar e de me ferir com os dardos mentais.


Fontes de consulta:

Evangelho de Mateus, 5:7, 25 e 26, 43:47; 18:15,21 e 22;

Evangelho segundo o Espiritismo, X e XII.



AGUARDEM MINHA SOLIDÃO


por Joana Rita Cruz


E nesta folha em branco

Anuncio minha solidão

Que eu própria arranco

Do mais fundo do meu coração.


Onde meu amor se perdeu

E nem amizade encontrei

Todo o sonho se deu

Como desaparecido eu sei.


Mas há que libertar

Esta versão tão esquecida

Da menina que sem rimar

Permanecia perdida.


Por isso tento escrever

Sobre esta mágoa tal

Que ninguém pode ver

Em meu ser desproporcional.


Porque não sei lidar

O medo do sozinha

Faz-me gritar e chorar

Torna-me pequenina.


Mas sou quase adulta

E venho também anunciar

Esta tamanha luta

Da maior das dores partilhar.


Por isso aguardem minha poesia

Que na folha em branco vai pintar

Algures um dia

A dor tão sofrida

Que tive de aprender a amar.




POLARIZAÇÃO


por José Juca


No mundo em que vivo tudo se polariza

O mundo que vivo é palco de rótulos

A polarização é escrutínio ao ser sua guisa

O rótulo é simplesmente entretítulos


Muitos são os temas em discussão

Do debate espera-se o essencial ao ser

Do discurso respeito de uma nação

Em ampla visão isso não há que acontecer


Ouvir opinião contrária tornou-se afronta

Embasamento de argumento pode esquecer

A ignorância sempre em voga é o que desponta


No debate, fake news é pauta corrente

Do popular ao jurídico ninguém se convence

Não se sabe quem a esse é competente




A ÚLTIMA CENTELHA


por Rick Soares


O amor não fluirá se um dos lados caminha na direção oposta.

E não há nada que faça alguém ficar contra a própria vontade.

Quem insiste só, bate com a cara na porta.

A distância física não é nada se a mente está a milhares de quilômetros.

Não há mais questão na fala, não há mais ligações inesperadas, não há mais o interesse… o fogo que havia, tornou-se faísca e cheiro de fumaça.

Isso é o que acontece quando acaba e não adianta fazer nada.

Há uma decisão já tomada e um futuro planejado que não te inclui mais.




SENTIMENTOS RELACIONADOS AO AMOR


por Stella Gaspar


Sempre estou defendo que sentir o amor em nós é um aprendizado constante.


Parece com pássaros fora da gaiola, porque o amor não prende e não sufoca a alma da gente. O amor misteriosamente vem e de repente misteriosamente se vai... e em alguns casos são esquecidos, deixados.


Li em uma citação anônima, que “Flores silvestres, simplesmente crescem onde querem. Ninguém tem que plantá-las. E então as suas sementes sopram ao vento e encontram seus lugares”. Isso é maravilhoso, porque cada amor é mágico e tem seus sentimentos no corpo e na alma. O amor pode ser sentido em qualquer lugar, em chegadas e despedidas, com um adeus no olhar e assim ficou esse fascinante sentir em nossas sensibilidades.


Sentimentos de amor são também, esperas e se por muito tempo, podem até se enfraquecerem. Namorar o mesmo amor nos tempos floridos, outonais ou em qualquer estação, como não saborear essa vontade de amar?


Ficamos fortes com esse tão elevado sentimento, nos sentimos adolescentes e apaixonados, especiais e amados.


É tempo de amor, como os poetas e as poetisas tanto descobrem escrevendo em suas poesias.

Ah! O telefone toca e uma voz aveludada diz do outro lado: você é a minha belíssima vontade de amar.




CAMINHADAS NA AREIA


por Lina Veira


Peguei o graveto  e escrevi na areia

Reticências

...

Quando se tem amor a dor some 

Evapora

Encara o caminho

Tem reticências




NOSSOS COLUNISTAS


Da esquerda para a direita: Arléte Creazzo, Luiz Primati e Alessandra Valle. Depois Joana Rita, Joana Pereira e Antônio Carlos Machado. Depois Ipê, José Juca e Rick Soares. Por último Stella Gaspar, Miguela Rabelo e Lina Veira.

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10 Comments


Stella Gaspar
Stella Gaspar
Apr 27, 2022

Carlos, você é incrível!!! 😍

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Carlos Palmito
Carlos Palmito
Apr 27, 2022
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ainda vou ter que ler o caderno poético com mais atenção e comentar de forma digna :)

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Luiz Primati
Luiz Primati
Apr 25, 2022

Normalmente eu analiso texto a texto e hoje foi o Carlos que o fez e com muita competência! Gostei de todos. Destaque para a Alessandra, que me fez lembrar dos meus dardos mentais. Para a Miguela, que por uma crônica simples, fez-me sentir dentro de sua história. E o que dizer das Joanas, de Stella, de Lina e de tantos outros escritores? Somente um conselho: continuem escrevendo.

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miguelarabelo
miguelarabelo
Apr 26, 2022
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Luiz gratidão pelas palavras! 🥰🙌

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Carlos Palmito
Carlos Palmito
Apr 25, 2022

Miguela Rabelo - A arte e os artistas... nunca foi propicio para eles, especialmente quando os vivos teimam em venerar os mortos, menosprezando estes que agora se mantêm vivos. Um dia, outros vivos venerarão os vivos do agora, porque lá... estarão mortos.


Odilson Filho - Os ecos do silêncio? Por vezes precisamos realmente que todas as vozes que gritam numa selva neurológica se calem, nem que por um segundo.


Arléte Creazzo - Os gostos, sinceramente, cada qual com o seu, e digo mais, não posso dizer que os outros que escutam o que não me agrada têm mau gosto, isso seria arrogante da minha parte, têm sim, um gosto diferente. Já os meus pais não gostavam dos meus Sepultura, d…


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miguelarabelo
miguelarabelo
Apr 26, 2022
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Parabéns pela minuciosa análise! De fato existe uma espécie de necrofilia da arte. Mas também penso que existem artistas atemporais e imortais. 🥰🙌

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Stella Gaspar
Stella Gaspar
Apr 25, 2022

Textos reflexivos e inteligentes. Luiz, a cultura de uma infância em tempos passados, como nos faz falta nos dias atuais. Todos os textos para mim, são grandes e capazes de mexer com o meu coração! Obrigada escritores e escritoras deste lindo Caderno que nos encanta sempre! 💖

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miguelarabelo
miguelarabelo
Apr 25, 2022

Lendo aos poucos, refletindo e aprendendo com cada rica reflexão !!

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