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REFLEXÕES Nº 11 — 13/03/2022

Novo colunista dizendo muito e nos fazendo refletir sobre filosofia. Stella Gaspar estréia nesse caderno. Além dela, nossos colunistas: Arléte Creazzo, Luiz Primati, Rick Soares, Antônio Carlos Machado, Joana Pereira, Joana Rita, Alessandra Valle, Simone Gonçalves, Lina Veira e Lucélia Santos.

Leia, Reflita, Comente!


Foto de Felipe Helfstein no Pexels



NOS DETALHES ENCONTRAMOS TESOUROS


por Stella Gaspar


Nós seres humanos em geral somos muito vaidosos, apreciamos as belezas externas que seguem um padrão social determinado. Sentimos satisfações imensas quando estamos em plateias, com olhos que nos aplaudem e com essas manifestações ficamos com a sensação de que ganhamos o mundo, que somos os melhores.


O belo deve ser apreciado e admirado, o olhar parte inicialmente de uma admiração. O admirar em grego- thaumázein — significa ver, sentindo a maravilha diante do que se manifesta aos nossos olhos. Para Aristóteles admirar, é uma atitude que inicia os homens a filosofar, visto que é pela admiração ou pelo espanto que se iniciam as indagações (Metafísica I: 124), na tentativa de elucidar o que está além do que aparenta ser.


Para mim, é nos detalhes imperceptíveis que moram as essências verdadeiras. Recebi de presente uma reflexão que não esqueço: “veja com os olhos do coração.” Realmente as pequenas coisas têm seus encantos e inspirações.


Então, de acordo com o poeta destaco: “Ver um mundo num grão de areia/e um céu numa flor silvestre, / ter o infinito na palma da sua mão/e a eternidade em uma hora.”


(William Blake).


Como olhar para os detalhes encontrando seus tesouros?


Tudo começa com a arte de ver e experimentar o êxtase da beleza. Os poetas estimulam o ver com olhares sensíveis e com um olhar mais amoroso vamos ao encontro da aceitação e do acolhimento, instigando-nos a perceber nos silêncios a magia dos detalhes, que abrigam mundos!


Referência

Aristóteles, Metafísica. Os pensadores. São Paulo: Abril, 1973.




SÓ SE EU DISSER SIM


por Luiz Primati


Quando eu estava no ensino fundamental sofri bullying. Foi horrível como qualquer um e, sob o olhar dos homens, dirão que o que direi a seguir foi "frescura".


Vivemos em meio a uma sociedade machista, todos sabemos. Quando tinha os meus 12 anos, os meus amigos já falavam das garotas. Cantavam, chamavam de "gostosa", "tesuda", passavam a mão no corpo delas. Eu sempre fui respeitador, apaixonado. Minha primeira paixão foi pela minha vizinha, depois pela professora e depois pelas garotas da classe.


Os garotos percebiam que eu era diferente e resolveram fazer bullying comigo. Começaram a me dizer que determinada garota gostava de mim e que deveria falar com ela. A garota era a mais popular: bonita, toda maquiada, fumava e beijava vários garotos. Ela era mais velha que nós e devia ter seus 15 anos. Eu a achava bonita e tinha atração física por ela. No entanto, não queria nada além de admirá-la e esses garotos resolveram que eu deveria pedi-la em namoro.


Foi durante o intervalo das aulas que inventaram de colocar um som e fazer com que eu dançasse com a garota. Armaram para mim. Nessa época era comum eles inventarem essas danças improvisadas durante o intervalo das aulas, apenas para apertarem a bunda das meninas e as beijarem enquanto dançavam agarradinho.


Eu tentei fugir e não deu certo. Foram atrás de mim no banheiro e disseram que a garota estava me esperando. Empurrado pelos colegas, meu corpo se juntou ao dela e segurei sua mão como se fossemos dançar uma valsa. Ela riu, pegou as minhas duas mãos e colocou em sua cintura e fez com que eu a puxasse para perto. Nossos corpos ficaram colados e ela encostou seus lábios nas minhas orelhas.


Enquanto rodávamos com o som da música, via os garotos rindo e apontando para nós. Ela tentou me beijar e virei o rosto. Daí ela me disse que queria namorar comigo. Eu sabia que era tudo arranjado pelos colegas e disse a ela que sabia de tudo. Ela riu e me pediu desculpas. Me deixou e logo estava se agarrando com outro garoto.


Para ela e os meus colegas, foi uma diversão. Para mim, um trauma que carreguei dentro de mim por décadas. Nunca contei a ninguém.


Contei tudo isso apenas para mostrar o quanto sei sobre assédios, bullying e os sentimentos que as mulheres expressam nas redes sociais. A dor dessas mulheres dói em mim quando ouço o relato e temo que isso ainda se arraste por muito tempo.


Na minha pré-adolescência era comum que assoviássemos para as garotas, a chamassem de "gostosa" e umas cantadas mais inocentes. Eu, no máximo, chamava uma ou outra garota de "linda". Queria namorar, pedir a permissão. Os garotos mais atirados agiam sem pensar. Nunca fui a favor disso. Com o passar dos anos, as mulheres que não aceitavam esse comportamento começaram a reclamar dessas atitudes e a se imporem. Numa tentativa de ajudá-las, as leis foram ficando mais rígidas e a campanha no "NÃO É NÃO" surgiu em toda a mídia.


A campanha que veio para diminuir o assédio, parece apenas tê-lo aumentado. Pelos relatos nas redes sociais, as garotas/mulheres ainda continuam tendo o seu corpo tocado sem permissão. Os casos são sempre de garotas chorando, procurando erros em suas ações, tentando achar uma justificativa pelas ações dos homens e sempre assumindo uma culpa que não é delas. Os homens, por sua vez as acusam de terem provocado.


As campanhas apenas deram maiores poderes aos homens e vou explicar o que concluí. Nos relatos notei que as mulheres baixaram a guarda após a campanha ser divulgada maciçamente. Com a campanha, as mulheres pensam que os homens entenderam o recado e muitos usam isso ao seu favor. Ao invés de pedirem permissão para a mulher para beijá-las, exemplo, eles simplesmente as agarram e as beijam, quase a força e se elas não dizem NÃO, continuam.


Mas as mulheres acabam ficando sem ação, não dizendo nada, tamanho é o espanto. Esse é o erro da campanha. Ao invés de dizerem NÃO É NÃO, deveriam dizer SÓ SE EU DISSER SIM. Porque nesse caso, se as mulheres ficarem caladas, não estarão consentindo.


Eu sinto uma dor inexplicável em meu coração quando ouço os relatos de choros compulsivos, auto-mutilação, ódio pelo próprio corpo, tentativa de suicídio, vergonha de si mesma e de suas ações. Então eu posso afirmar com todas as letras: vocês não fizeram nada de errado. Todas as mulheres tem o direito de se maquiarem, usarem roupas que as deixe confortáveis, bonitas, atraentes. Nenhum ato, de nenhuma mulher, dá o aval ao homem para avançar e tocá-las. Espere que ela diga SIM. Temos que acabar com o termo "Quem cala consente".


Vai ser muito demorado mudar a mentalidade das gerações. Isso poderá levar de 30 a 40 anos. Portanto, mulheres, não se calem. Divulguem essa nova campanha para que os homens entendam de uma vez por todas.


Para todas as mulheres, na semana em que comemoramos o DIA INTERNACIONAL DA MULHER, o meu apoio incondicional.


SÓ SE EU DISSER SIM!



BUSCAS


por Antônio Carlos Machado

O que você busca?


Não foram poucas às vezes que me perguntaram:


"Por que você escreve?"

"O que você busca?"


E entre as muitas respostas ambíguas para perguntas que remetem aparentemente a definições objetivas eu digo que escrevo porque é o que sei fazer melhor. Busco discernimento do que eu vivo de uma forma mais profunda, não busco respostas, busco clareza, busco dirimir as dúvidas, dúvidas que a maioria das pessoas não tem, por que não se inquietam com os conceitos e verdades que acreditam e isso não é defeito ou qualidade é apenas característica de personalidade.


A vontade ou em muitas situações a necessidade de escrever é um desemboque, uma erupção, a mensagem verte da ponta dos dedos, escrever é criar, dar uma versão particular a um fato, um sentimento, uma estória.


A busca pode ser um objetivo, uma carência.


Pessoas traçam metas que querem alcançar e isso pode ser planejado, estruturado, medido e acompanhado, isso é baseado em lógica e passa por processos de ressignificação e revisão de valores, tudo muito ponderável e sensato.


Buscas por si mesmo são questões complexas, envolvem autoconhecimento e consciência de si mesmo, as pessoas que buscam por si mesmo têm uma incompletude patente.


E o que é buscar por si mesmo?


Talvez a resposta mais convincente seja: buscar reafirmar o que já se sabe ou sentir que algo mais sólido falta em suas convicções. Uma aceitação de limites ou por outra o sentimento de romper esses mesmos limites.


A busca é sobretudo uma grande escolha e é comum não saber fazê-las e viver em constante alternância dessas mesmas escolhas.


Da mesma forma que desejamos coisas e após a conquista delas troquemos esse desejo por outro, a busca seja por conhecimento ou por esclarecimento também pode ser alternada disso para aquilo, é humano.


Os fatores externos acabam trazendo um grande ruído a essa busca, porque damos importância aos nossos pares esquecendo que vivemos a partir de nossas vivências e a consistência de nossos valores está diretamente ligada ao que vivenciamos e não ao que observamos no outro.


O que torna a busca uma grande viagem consciente é a convicção de que temos a liberdade de buscar, a sensação de que essa liberdade nos fará melhores, mais confiantes ou menos inseguros.


Uma penúltima conclusão (última nunca será) a respeito da busca por si mesmo é o reconhecimento da necessidade que todos temos de considerar, tanto a vulnerabilidade de nossas convicções quanto a possibilidade de convivência com a convicção do outro, sabermos que as experiências sobre o mesmo assunto, podem ser vividas de maneira distinta e todas elas são válidas, para todos, inclusive para nós que não as temos todas.




O QUE EU GOSTARIA DE FAZER?


por Arléte Creazzo


Dias atrás estava vendo uma cena de um filme, o qual eu já havia assistido, e percebi o quão importante a cena era.


Apesar de um senhor com idade avançada para o mercado de trabalho, estar sendo demitido, ela muito nos ensina.


Muitas coisas na vida, depende do nosso olhar e de como enfrentamos o momento.


Na cena: duas pessoas que eram contratadas apenas para demissões. A jovem, colocando tudo o que havia aprendido teoricamente, dizia que a demissão poderia ter um efeito positivo na vida dele e da família, que seria bom um pequeno trauma para que as crianças crescessem mais fortes e todo o blá blá blá que pode ser dito enquanto não se diz nada.


O outro mais velho, já trabalhando com demissões a um certo tempo, pergunta ao demitido quanto a empresa pagou-lhe para que deixasse seus sonhos de lado, ou seja, questionava quanto ele ganhava para trabalhar em algo que não gostava, mas que lhe dava o sustento.


O senhor demitido responde quanto ganhava ao ano, e seu “executor” diz que leu em seu currículo que ele havia feito um curso de culinária francesa, profissional, e lhe diz que agora seria uma ótima oportunidade para que ele realizasse seu sonho de trabalhar com gastronomia.


Comecei a analisar o quanto vale nossos sonhos, ou a não realização deles, e também qual a idade para essa realização.


É claro que todos dependemos de dinheiro, não há como sobrevivermos sem ele.


Ouvi muito durante a vida, que primeiro devemos escolher uma profissão que nos mantenha monetariamente, e após isso, seguirmos nossos sonhos.


Acho até coerente este pensamento, principalmente porque não há idade para se realizar sonhos.


Mas o fato de estarmos bem empregados e ganhando bem, não nos garante o futuro.


Se você é empregado, poderá ser demitido a qualquer momento.


Se for patrão, seu negócio poderá não andar muito bem.


Então o que fazer?


Não há receita, somente atitudes, e cada um deve pensar qual é a melhor para si.


Poderá trabalhar de funcionário, ganhando bem e fazendo uma reserva para qualquer emergência, inclusive para realizar sonhos.


Como patrão, provavelmente abrirá um negócio do qual goste de trabalhar, correndo os riscos.


Tudo é risco.


O que podemos fazer é nos questionar como queremos viver. Estressados em empregos que não nos trazem felicidade, mas pagam nossas contas, ou termos uma vida mais leve realizando sonhos.


Talvez ao sermos demitidos possamos trocar a pergunta.


No lugar de: O QUE FAREI AGORA? Poderíamos estar nos perguntando: O QUE EU GOSTARIA DE FAZER?



PERDOAR PARA RENASCER


por Joana Pereira IG: @temjuizo_joana


Talvez dos actos mais altruístas e difíceis de um ser humano saber realizar integralmente.


Por vezes, dizemos perdoar quando nem sequer o sabemos fazer do início ao fim.


O perdão redimensiona-nos aos tamanhos que devemos saber encarnar. Não significa sermos fracos, frágeis ou inferiores. Significa sermos capazes, termos a coragem e resiliência numa tomada de posição que nos permite ser dignamente humanos, sem ditar sentenças.


Temos de saber ser pequeninos para em larga escala ganhar tamanho. O tamanho necessário para ser na dimensão da nossa dignidade.


Não somos menos por perdoar. Perdoamos para sermos livres de mágoas, para sermos mais inteiros e sãos, no caminho da humanidade. Um caminho que se percorre uma vez, de cada vez, e deixa história. Daquelas que são bonitas de contar. Daquelas onde o amor, muito mais o amor-próprio, substituiu a mágoa nos corações benevolentes. Corações que largaram o peso e renasceram mais leves, fortes e mais íntegros. Corações que mesmo feridos, tem a capacidade de auto-cura.




O QUE PEDIR?


por Alessandra Valle


As aflições vão acontecendo, as alegrias também, assim é nosso dia.

O humor oscila conforme a situação se apresenta na vida.


Acertamos, erramos, sorrimos, choramos.


Ao final do dia, deve restar apenas uma certeza a ser dita:


— Fiz o melhor que pude.


Porém, para avançar na trajetória do autoconhecimento não basta fazer o melhor para si mesmo, deve-se fazer o melhor aos outros também.


Esse objetivo na caminhada evolutiva requer muita disciplina, abnegação, compaixão e sobretudo, caridade.


— “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” — disse Jesus.


Por isso, toda noite, antes de dormir, preocupo-me em analisar mentalmente as minhas ações. Procuro refletir se fiz o melhor que podia a mim mesma e aos outros, se deixei de praticar o bem, se poderia ter agido de melhor forma e se alguém terá motivos para se queixar de mim.


No momento da prece, questiono-me sobre o que pedir a Deus e lembro que preciso pedir saúde, para evitar brechas para a doença.


Recordo-me de outras necessidades como pedir proteção, para que eu e os meus irmãos de experiência quotidiana possam ser amparados.


Peço felicidade, para eu poder criar alegria no próximo.


Suplico o auxílio de Deus na sustentação da minha paz e o Seu auxílio para que haja sustentação na paz dos outros.


Rogo tolerância para as faltas possíveis que venha a cometer, mas não esqueço de pedir para eu ser tolerante e esqueça as ofensas ou dificuldades que alguém me imponha.


Procuro o ânimo e a boa vontade para o trabalho, a fim de melhorar o nível de conforto na minha existência material e não esqueço de pedir que eu permaneça apoiando os companheiros de humanidade a fim de que se elevem de condição.


Todavia, reflito se todo o corolário peditório não se resumiria apenas um: o esclarecimento da minha consciência, para eu poder procurar as luzes do saber e as distribuir no auxílio aos que me rodeiam.


Fontes de consulta:

Evangelho de Mateus, 7:12.

Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, 7.



INSUFICIENTE


por Rick Soares


Quero cair em mim tantas vezes

Quantas forem necessárias para

Convencer-me de que não sou

Autossuficiente para nada.

Pois uma vez que me achar autossuficiente para algo, não me permitirei aprender um pouco mais.




ESTRELA CADENTE


por Joana Rita Cruz


Hoje perdida nos meus pensamentos relembrei uma quinta-feira(salvo erro), há pelo menos uns 6 anos, que me inspira hoje uma dúvida divina: será que Deus controla as estrelas cadentes?


Estava ainda no ensino básico, época muito feliz da minha infância e em que conheci ou agarrei os amigos que me acompanham hoje e que segundo o meu esperançoso coração me acompanharão a vida toda.


Lembro-me de aulas a escrever poesia, aulas a discutir da religião filosofia, almoços horríveis, mas divertidos na cantina e uma rádio infantil, mas sempre oportuna que sabia (talvez por magia) tocar as músicas dos desenhos animados quando alguém os mencionava por entre as mil vozes que falavam alegres no recreio.


Naquele dia saímos da aula quase de noite, eu e a minha amiga, Carol, tínhamos Educação moral e religiosa católica, éramos as únicas da nossa turma e por vezes as únicas na sala de aula. Tínhamos um professor simpático que incitava o pensamento crítico e a criatividade mesmo face aos escritos e temas divinos e católicos.


Mas retomando a história, deviam ser umas seis e meia quando passámos em direção à porta principal da escola, numa das nossas conversas rotineiras e nada memoráveis, face às inúmeras inesquecíveis que tivemos nesse período, quando ao fitarmos o céu estrelado de um azul-escuro, belo e acolhedor a vimos.


Vimos uma estrela-cadente, virámo-nos algo incrédulas uma para a outra e sei que pedimos cada uma seu desejo e já não sei se os mantivemos em segredo como a tradição dita ou se em menos de dez minutos nos desmanchámos.


Eram desejos de amor, aquele amor inocente da adolescência e o facto é que naquela noite, saídas de uma aula de Moral na nossa vida simples e feliz, vimos uma estrela-cadente, pedimos algo ao universo e uns meses depois ambos os desejos realizaram-se.


Então pergunto-me se foi obra do acaso, do divino, do universo ou simplesmente uma partida que o cupido pregou a duas adolescentes esperançosas e apaixonadas pela ideia do amor.




RECOMEÇAR


por Simone Gonçalves


como é fácil admirar

apreciar

se encantar

com nossas riquezas naturais

presente divino

mas…

como é difícil aceitar

sua morte lenta… há tempos

seu choro seco entre matas desmatadas

seu suspiro dramático pedindo para viver

num cantar solitário de um pássaro

no leito já seco de um rio que passara por mim…


e como fazer?

para voltar à vida perdida ?

a ouvir alegrias na grande festa da fauna/flora?

depende de mim…

de você…

da união de todos

para a vida voltar a viver

nesse mundo criado

para a felicidade reinar

a vida brotar… despertar

para o recomeçar…




QUANDO A IMAGINAÇÃO É AZUL


por Lina Veira


Imagine uma floresta com árvores azuis. Pronto! Árvores azuis existem – pelo menos na sua imaginação e na minha!  E se a gente se imaginasse dentro dessa floresta todo mundo de azul se aproximando um dos outros de mãos dadas formando uma gigantesca roda humana azul da paz, ... Adoro azul! Afinal, pensar em coisas que não existem não é fazer essas coisas existirem no pensamento?


Estar ao seu lado e segurar sua mão azul, não é lindo de imaginar! Acredito que quando a gente imagina algo, esse algo passa a existir, só que de um jeito diferente daquelas que a gente diz que existe fora da gente.


Imaginar é uma capacidade do ser humano, o problema é que nem sempre fica fácil  emocionalmente separar o que é realidade na nossa vida do que é imaginação, do que queríamos que fosse real de verdade e estivesse aqui e agora ou pudéssemos tocar e sentir.  Por isso às vezes ficamos tristes, e nos sentimos incompletos.  Queremos sempre ter um dia encantado como de princesas ou fadas, sem ter que passar por nenhum terrível apuro, perigo ou medo. Queremos sempre acertar nas escolhas, nos amigos e no jogo da virada do ano, da vida. E independente de um cujubi ou coruja que cantam em períodos opostos, preferimos ser alegres que triste. Preferimos ganhar a perder. Embora sejamos atrapalhados nisso e geralmente depressivos.


Pois é, preferimos e imaginamos coisas boas e certinhas.

Pensar em coisas ruins, dá é azar dizia vovó, ou pensar que algo possa dar errado é ser negativo. SORRIA PARA VIDA que a vida sorri para  Você!  Escolha isso! Ouvi de todos que se foram muito cedo na minha vida.


O pensamento é algo único, exclusivamente nosso e realmente particular. Com ele podemos até pensar errado, mas temos a certeza de que nunca é errado pensar...  imaginar e assim por diante ser feliz independente da cor, se vermelho, amarelo ou laranja,  branco ou preto... Ainda assim,  eu queria  entrar nessa roda  e segurar sua mão  azul nessa floresta. Lina  Veira.


*A cor azul simboliza a criatividade,  produz  segurança,  propicia saúde emocional, lealdade, alegria.



O ABRAÇO


por Lucélia Santos


Alguns gostam de dar e outros de receber. Não importa a ordem ou como ele vai nascer.

O abraço é uma conexão ímpar, um laço firme e acolhedor. Por alguns segundos, não se sente medo ou desespero.


É um lugar quentinho, aconchegante, confortável e sentimos paz. Existe lugar melhor para se estar?

No abraço damos e recebemos consolo; fazemos as pazes. Com um abraço se diz tudo, sem precisar dizer nada.


Qual o melhor lugar do mundo para uma criança que está chorando, senão no abraço da mãe ou do pai? Para alguém que perdeu um ente querido, senão no abraço de um amigo ou familiar?

Enfim, um abraço é como se fosse um lar.


Quando corações batem pertinhos um do outro, parece estarmos em outro mundo. Sentimentos bons se afloram e a alegria se manifesta. Nos sentimos abrigados como alguém que fugiu de uma forte tempestade.


O abraço é a melhor forma de dizer: Estou aqui!

Abraço é poesia e nos faz flutuar. É sempre a melhor decisão a tomar. Não precisa pedir e muito menos avisar.


O abraço sempre pede um abraço, alguns pedem um pouco de demora. E nesses abraços sentimos os males indo embora. Apertamos laços de amor, aqueles para a eternidade.




MANHÃ DE TODO DIA


por José Juca


A música de novo a tocar… A mesma canção… Ele desperta de noite tranquila. Foi um caminhar às matas, com lobo amigo… Alado, ambos sobrevoam florestas, bosques, rios e lagos. Segue, a música de novo a tocar… A mesma canção… de hora em hora, seria? Parece! Senta-se na cama, pés no tapete, ao lhe massagear. A janela ao lado da cama convida-lhe a olhar. A pintura não traz momentos passados. Dias e dias chuvosos, os orvalhos não lhe presenteiam. Ante sua janela, um sol ainda preguiçoso, vagaroso, teimoso a sair. Num horizonte, acima desse, em cores, dégradés, belíssimo céu de amanhecer. Imagem congelante, olhar extasiante, hora admirado pelo ser. E a música de novo a tocar… A mesma canção… Um burburinho incomoda muita gente. É o adolescente que vem, vai, desce do carro, do beijo deixado… E os nervos afloram. O carro na garagem quer entrar, o veículo de frente do portão a obstruir… O grito, o xingamento, o desrespeito ao bloquear, o vociferar do mal-educado, de linguajar chulo e tosco. O carro sai, desobstrui, o outro, arranca, entra. Quase atropelou o garoto que passava. Manhã segue a vista, agitada, ativa, problemática… Movimentada. E a música de novo a tocar… A mesma canção… E amanhã, e depois, a cena se repetirá em outros dias. Ele volta-se para o horizonte, o sol caminhou, o degradê desapareceu, não mais se vê… Triste, era lindo! Mas, é bela a luz do dia… Verdes mais verdes, cores mais vivas, não há calor. Uma brisa emplaca seus sentidos. A rotina se acalma, amansa a alma. O cheiro é sublime. É terapêutico o aroma do estacionamento. Carros, inúmeros, cobertos de lençóis verdes, pássaros que cantam… Bem-te-vis, colibris, pardais, em galhos, fios e arredores. E lá estão eles, orvalhos passados, despercebidos por ele, agora admirados… Invadido pelos cheiros e levados a observação. E a rotina segue… E a música de novo a tocar… A mesma canção… o burburinho, o movimento, corre daqui, de lá, “não corram!”, e a voz evoca novamente, “não corram!”. Em outra toada, grita-se: “Vamos, vamos, um, dois… Meninos a direita, meninas a esquerda, alongar…”. E a orientação segue! E ele a janela se direciona, põe-se a olhar. Cabelos negros, loiros, rastafári, Black Power, um corre, outro caminha, bolas, petecas, redes, traves, e movimento, muito movimento no espaço ocupado. E a música de novo a tocar… A mesma canção… E a voz vocifera “não corram!”. Ninguém a ouvir. O momento se vai. Um silêncio se faz. E ele volta-se da janela, de café tomado, o jornal local, na TV, acabou, não há trabalho hoje, não há saída de casa, nem home-office, é aniversário dele… Lê um bom livro… O tempo passa… E a música de novo a tocar… A mesma canção… À janela ele segue… Lá se foi a manhã… No estacionamento, carros a bloquear carros, buzinas no portão da garagem, o carro que não sai, o garoto que vai, a garota que vem, e chega ela, todo dia, a van escolar… embarca o cadeirante, o andante, o maior, o menor, e sai… devagar… são bloqueios cá e lá… uns vão, outros vêm… Tudo acalma! E a música de novo a tocar… A mesma canção… Vamos ao segundo turno. De novo, tudo começa. Na escola do estudante, a escola da vida. O respeito, o desrespeito, o intolerante, o passivo, o amor, o amante, o líder, o autoritário, o transeunte… O marasmo, a comemoração, o grito, o silêncio… A vida em rotina, fora dela… O mundo em guerra, a pandemia, o sofrimento, o que se foi, o que está aí, a dor dos que ficaram, tudo passa, se não passar… A vida continua. Em festas e mazelas na cabeça de cada um, há construções e destruições. Essa é a manhã de todo dia…




CHARGE

Charge do Duke para o O Tempo



NOSSOS COLUNISTAS


Da esquerda para a direita: Arléte Creazzo, Alessandra Valle e Luiz Primati. Depois Joana Pereira, Joana Rita e Rick Soares. Depois Antônio Carlos Machado, Lina Veira e Simone Gonçalves. Fechando: Stella Gaspar, Lucélia Santos e José Juca.

 
 
 

4 Comments


joanapereira.ft
joanapereira.ft
Mar 22, 2022

Está cada vez maior e... Melhor! Adoro poder fazer parte desta coluna, mas cada um com a sua particularidade e de reflexões tão heterogéneas... Fico de coração cheio!

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Carlos Palmito
Carlos Palmito
Mar 13, 2022

Uau, este caderno está cada vez maior... tem sido um sucesso mesmo pelo que vejo, e ainda bem que assim é, que esta família merece isso.

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Stella Gaspar
Stella Gaspar
Mar 13, 2022

A arte de escrever me deixa sensível. Li e me olhei, me senti feliz por ter aqui uma reflexão a luz do que acredito. Como os textos chegam de mansinho, a cada título uma curiosidade, tudo que li me encantou, me impressionou alguns relatos e me deixou cheia de ternura com as superações. Agradeço a oportunidade e ressalto o prazer em estar ao lado de autores poetas , escritores geniais! 🌹😍💖

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Luiz Primati
Luiz Primati
Mar 13, 2022

Esse nosso caderno está cada vez maior. Creio que terei que abrir mais um em breve, pois não cabe mais ninguém. Melhor assim! E parabéns a todos os autores que enviaram seus textos para o caderno de hoje.

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