LISA LYNN ERICSON
Lisa Lynn Ericson nasceu em Lisboa, sede da sua alma fadista. É autora de livros de não ficção e de poesia, incluindo Simplicidade Vibrante: Pensamentos Poéticos de um Fado Feliz (2021), cineasta e profissional de teatro. O seu anseio fundamental é espalhar esperança sem fim.
Website: LisaLynnEricson.com
Instagram: @lisalynnericson
1 - FADO TRISTE
Nem tudo é tristeza,
Nem tudo é tão triste—
Podes ter esta certeza,
A vida não desiste
De dar uma volta ao fado—
Não estejas assim resignado.
Eu sei, como fadista,
O fado entristece,
E dou-te uma pista:
A alma agradece,
Pois quando o fadista canta
A vida já não nos espanta.
Às vezes o que basta
É ter uma canção
Que suavemente afasta
O dó do coração,
Lembrando-nos que não estamos
Sozinhos no que lamentamos.
Eu canto mais um tanto,
Para que ouças bem,
Sabendo entretanto,
Que escuta mais alguém—
É Deus, que no fado, na vida,
Conhece a tristeza sentida.
E em qualquer lamento
Do fado Deus está—
Conhece o sentimento,
E o animará—
Confia, confia, confia,
Na tristeza há alegria.
2 - A VANTAGEM DA CORAGEM
Descansa, respira
Um pouco de ar—
A terra só gira
Assim devagar—
Já basta da tua tontura,
Sintoma da tua bravura.
Tem calma, abranda,
Sem nada fazer—
O mundo não anda
Assim a correr—
As coisas às vezes demoram,
E a tua pressa ignoram.
O que está no fundo
Do gozo que tens,
Enquanto o mundo
São todos reféns,
Cativos por uma doença?
O gozo é uma ofensa.
Tu falas de vida,
Eu falo de morte,
Tens fé tão garrida,
Eu tenho má sorte,
E já nem faz qualquer sentido—
É chato, já estou tão metido.
Mas pouco a pouco,
Eu vejo em ti,
Que estás menos louco,
Ou antes não vi
O brilho nos olhos, e pronto,
Já sei que tu não ficaste tonto.
Agora eu quero
Saber como é
Não ter desespero,
Viver pela fé—
Parece que tu tens a vantagem,
E quero a mesma coragem.
3 - FATALISTA
Sim, sou fatalista—
Só sei ser assim,
Com alma fadista
Que poisa em mim.
O fado conheço—
Não há outro rumo
E nunca despeço
O ar que consumo.
As nuvens, as brisas,
Que passam no céu,
São suaves poetisas
Falando do véu
Que tapa a vista
E vai desvendando,
Com dica fadista—
Lá soa, voando.
Pois sopram os ventos,
A vida prossegue,
Com abrandamentos
Que ninguém consegue
Tornar despachados—
Quais ritmos e climas—
São fados achados,
São letras e rimas.
Mas dentro de tudo
Persiste a saudade,
E isso não mudo,
Nem tenho vontade—
O fado que clama
Só sabe de anseio,
Pois quando se ama
Não há outro meio.
4 - NÃO MORRAS, ESPERANÇA
Não morras, esperança,
Nem fales do fim—
Respira em mim,
Enquanto te cansa
Manter o ardor
No meio da dor,
Qual ai sucessivo
Num vale agressivo.
Cá vou derrapando—
Do cimo caí,
E já me perdi,
As penas tapando
Perante os demais
Que não sabem quais
Os gritos que escondo,
Que não vou dispondo.
Ó alma, desperta!
Não deste tudo já—
Derrota não há
Enquanto aperta
A falta de sorte,
A sombra da morte,
Que ganha vantagem
E só faz chantagem.
Eu nunca admito
Assim sufocar,
E vou invocar
Aqui outro grito,
Do berço do vale—
É bem contra mal—
Escuta, repara:
A vida não pára.
5 - RESISTINDO
Coração tão delicado,
Estás ali a existir.
Esta vida é um fado,
Mas tu podes resistir,
Com a tal delicadeza
Que tu tens, tenho certeza.
Este mundo é incerto,
Pois o coração conhece
A dificuldade por perto,
E às vezes apetece
Conformismo, derrotismo,
Num eterno pessimismo.
E, enquanto existindo,
Com o mundo a teus pés,
Não te percas, desistindo
Da pessoa que tu és,
Pois existe um bom caminho,
E não tens que ir sozinho.
Vai, não penses na derrota,
Não te desanimes, não—
Sobe e voa, qual gaivota
Que nem olha para o chão,
Resistindo ao momento
Tão tristonho, turbulento.
Mas se queres ter sucesso,
Resistindo, sendo mais,
Guarda sempre o apreço,
Nas alturas onde vais,
Pelo Deus que te sustenta,
Pois sem ele, ninguém aguenta.