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Cristo Redentor

IV COPA DE POESIA
BRASIL, OUTUBRO 2022

DIAS 9, 16, 23 DE OUTUBRO E 06/NOV
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Marcello Silva

MARCELLO SILVA

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Marcelo Santos da Silva é autor dos livros: "Na Garganta um Sertão Enjaulado (3°lugar Prêmio Biblioteca Pública do Paraná 2021); Homo Cactus (2018); O Pescador (2015). Participações em dezenas de coletâneas pelo Brasil. Membro do clube de leitura Café do Cazuza; Coletivo Ágora Chaval; O Piagui; Piauí Poético etc.

 

Instagram: @marcello_s_silva

1 - TAPERA

No alto do morro hoje reside uma saudade

São lembranças nos cacos de telhas

A poeira nas fotografias pedaços do que já foi

 

No entulho há um grito sangrando

Que acalma as madrugadas

Ainda se ouve as preces e o choro baixinho de Birica

 

A bengala posta na parede

A espera do passeio pelo quintal

O baú que guarda as fotografias amareladas

E o tempo gravado nas pedras...

O banco e o pote recolhidos

Aguardando as chuvas de março.

E tudo é solidão.

 

Há um pouco de Birica em cada centímetro de chão

Como se sua voz fosse o vento repentino, acariciando as manhãs

E seus passos fossem as folhas secas dos embus que valseiam pela tapera

Entre as reminiscências.

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2 - VULCÃO

Há um poderoso silêncio neste teu olhar de fêmea

Que transgride

Que provoca

Que acalma.

Teus lábios rubros de Alerquina

A boca entreaberta;

O meio sorriso;

E meus instintos aguçam em tua busca

Te procuro, te devoro, te desejo...

 

Em devaneios me perco entre teus caracóis

Mordo-te os lábios até sangrá-los

Percorro cada beco do seu corpo com minhas mãos trêmulas

Te sussurro ao ouvido mil palavras impublicáveis.

E nosso gemido em gozo é um meteorito que explode a via lactea.

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3 - ALEGORIA

Sou homem das cavernas

Temendo às sombras

Que o fogo projeta

Autorretrato

De um doido se reinventando

Noite de vidro (embaçado)

Que ateia medo e transfigura lágrima

Poesia3
Poesia4

4 - MIRAGEM

Por pensar em ti o mundo foge

As horas voam no tempo entre lágrimas e poeiras

Tudo é vendaval onde a ventania aflora o amor

Não conheço o mundo que habito

Ou se de fato existo neste instante

Intervalo de tempo entre o sono e o tédio.

Vejo tua face cravada na pele

Adaga afiada de dois gumes

Fazendo pulsar teu sangue

Miragem dos sete desertos

O silêncio repousa na tranquilidade de teus olhos

E a tentação na tua boca entreaberta e molhada.

5 - POEIRA

Sou um túmulo onde adormecem todas as caravelas naufragadas

No peito, trago gravado a ferro quente, uma cruz de malta

Há fantasmas do que fui, espalhados pelos meus becos.

 

Fracassei.

Fracassei como fracassam os covardes

De espada em punho

Com cicuta em taça.

 

E pela culatra um tiro seco

Me reduz a poeira de Quéops.

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