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Cristo Redentor

IV COPA DE POESIA
BRASIL, OUTUBRO 2022

DIAS 9, 16, 23 DE OUTUBRO E 06/NOV
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Sara Bareira

SARA BARREIRA

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SARA BARREIRA tem 23 anos, é formada em psicologia e teatro, e estudou durante vários anos literatura. Muito daquilo que brota dos seus escritos é inspirado numa dança entre os fantasmas da vida real e o seu percurso académico, que trabalha ativamente como intermediário tradutor de simbioses humanas.

 

Instagram @_sarabarreira_

1 - MAR VERMELHO

O meu coração jorra no oceano,

O barco estremece,

Parece estar a afundar

Mas é o sangue que pesa mais do lado esquerdo

Do coração que não se acomoda de jorrar,

Sangue,

Por todos os oceanos onde a maré o teima em levar,

Não me digam como se deve curar uma ferida,

Quando esta tem vontade própria sobre o meu corpo de presa.

Deixem-no jorrar!

A carne lamenta, em redor das artérias que envolvem o coração e o parecem abraçar

nestes momentos de tristeza e alento para onde todos gostam de olhar.

É um buraco no tempo,

Um buraco que obriguei a calar,

Mas a ferida jorra tanto, que a carne sofrida me pede para olhar,

de novo,

lá para dentro.

E os gritos de desespero começam novamente a cantar. . .

Não, não posso voltar atrás no tempo, estas vozes têm de se calar!

A água tornou-se vermelha, e o passado lateja por muito que eu o não queira. . .

As fraquezas abatem sobre meu corpo,

Já disse!

Não sou sereia!

Deixem-me jorrar a minha dor, que sou feito de sangue e não de amor!

E ele adormeceu honrado nas ondas, escarlate, que para todo o sempre tomaram

a sua cor.

Poesia1

2 - HUMANO É SER O QUÊ?

Óh meus amigos e sabem o que retrata a bonança?

As lagrimas de sangue que cobrem a infância!

A amargura prolonga-se durante tanto tempo no nosso peito que faz tombar,

É tal a derradeira que nos vira a tromba seja quem houver para amar!

Uma pena, um gato vadio, uma vela ainda acesa.

Dá-nos com tudo sem que ninguém veja!

Como uma peça de fruta amadurecida, queimada com a força do sol e o medo que

semeias. . .

Quem és tu?

O Humano mais perfeito do mundo.

Letárgico e com sabor a vinho. . .

Quem és tu?

Quando estás sozinho.

A tempestade com os dissabores regados à chuva numa tela com ausência de cor

Ou a glória que escalda o sangue e rebela em fervor todas as memórias que nunca

pode querer?

Humano mais perfeito do mundo. . .

Rouba-me um dente, um canino, um molar, até aqueles que estão à frente.

Porque sorrir faz me envelhecer e chorar lava-me o rosto até adormecer.

Humano mais velho do mundo. , ,

Quem abre a boca como eu não devia ter dentes. . .

A não ser para morder quem se acobarda das nozes conspurcadas no sangue entalado na

verdade e nos dentes!

Que a dor é força do hábito e o corpo é alado, mais perfeito que um astro celeste.

(E a verdade é que por vezes não sabemos de onde provém esse massacre letárgico e

hediondo que em certas figuras fica tão bem.

Em lugar religiosos e rostos encovados dos velhos que um dia gostaram de alguém,

Como ela e o outro que já não reconhecem ou veêm quem à porta lhes bate para

rogar o bem.

Que egoísta é ser humano.)

Poesia2

3 - UNIVERSO MUTANTE

Quem és tu até amanhã chegar e tomar lugar das coisas que foram hoje Ilhéus e

faróis à vista.

Até ao amanhã chegar há quem não veja os murmúrios da maré, das ondas que

batem com uma força grutesca nas rochas, nos meus pés.

Há quem não me veja de pé, porque me enterro na areia húmida sem vontade;

Ela perguntava aos poucos e eu deixava me ir aos bocadinhos. . .

Que linda maré,

Amanhã doer-me-á a vista,

O sol embate nos olhos, a areia consome-me as pupilas,

Fundo me com a terra, com a lama, com este estado triste em que me apercebo que

existo.

Ruinoso, desolado, derrotista,

A merda é que no dia em que decidiram colocar filhos na terra nunca pensaram que a

ingratidão se deveria a isto.

Até ao amanhã chegar enquanto viver serei assim pouco, finito, egoísta, porque não

são as hormonas,

São os livros, a escola, o trabalho, os jornais, a internet, as pessoas, as palavras isto que

por tão pouco também existe.

Sei tão pouco de tanto, fui sentenciado!

Até ao amanhã chegar, estarei tão serenamente como hoje vestido de branco, azul e preto.

Tudo quanto me agradar.

Porque sou plural, sou misto, muitas coisas, um pássaro, uma ratazana, um obelisco.

Infame, desterrado, santo, casado, pelintra catequista.

Serei animal, flor, reptil, vegetal.

Serei qualquer coisa indefinida e globalizante.

Porque sou um universo mutante, onde todo o anormal é paralelo e relevante, a todos

os intelectuais emancipados ou masoquistas.

Até ao amanhã chegar serei espaço infinito, oxigênio das arvores, e as nuvens

condensadas que cobrem hemisférios.

Serei,

Sim,

Serei alguma coisa,

Antes de a luz do dia se revelar à escuridão e vier descobrir os meus olhos que refletem

dentro do espelho as memórias de um avião.

Poesia3

4 - NÃO SOU AMOR

Então contas os passos do coração dizes-me que sim e eu sei que não.

Então provocas-me e eu arrisco por um pedaço do teu feitio arisco.

Então diz-me quem amas que eu peço perdão

Por te amar mais um pedaço do que todos os desgraçados que já pediram a tua mão.

Então deixa-me ser cor no teu pincel que não preciso de fazer juras a são Miguel para

ser teu em memórias futuras.

Então sorri para mim com embaraço porque a condição de amante é beber de um trago

o medo de ser fraco,

E fuzilar a gosto, a imensidão do mesmo olhar que um dia me trará um desgosto. . .

Então,

Se não ficar, pelo menos pude olhar indefinidamente o teu rosto,

Lá do fundo da sala onde falhados praguejam sobre a atitude da ilusão amada, e

tristes bocejam melodias de mulheres inventadas.

Então quem sou?

Se não o teu amor alado com muita tristeza para ser contada?

Então quem sou?

Vida platónica e dor. . .

Então não sou lembrança,

olhar fulminante,

sensação pulsante,

textura ruminante que explode no céu da boca um turbilhão de cores,

Então

Não sou amor.

Poesia4

5 - BORBOLETAS CAÇADAS

A multidão ensurdecia os que queriam ouvir. . .

Por isso ele escreveu,

Mas vou sussurrar-te um dos meus mais pequenos segredos:

Se a tua alma está cheia de amor. . .

Deixa-me tomá-la só mais um pouco.

Rasga-me o peito e entra por favor!

Dá-me o que não sei se tenho para perceber o que sou. . .

Não suplico por perdão, mas atrevo-me a contestar a dor;

Exagero, vou ao extremo, não quebro, não parto, e rebento em tempestades;

O autor diz que não temo a liberdade, nem os corvos abandonados no prado. . .

Da verdade se exagera a felicidade somos ratos à solta pelo mato. . .

Rouba-me o que roubei e cospe-me se ainda for deles!

Luxuria, desejos, silvas envenenadas. . .

Arquétipos que embelezam vontades. . .

Histórias, meras histórias inventadas. . .

Seja boneco, seja humano, seja sonho. . .

Recorda-me dos beijos que darei mesmo que platónicos. . .

Ou até daqueles que não sabem a nada!

Delírios fragmentados:

Laminas, tesouros, sentimentos imaginados d’ouro;

Analogias de vultos quebrados. . .

Deixa que me escreva, deixa que sou o que escrevo, deixa-me. . .

Porque me doem as asas;

Mas ele contou-me. . .

As borboletas caçadas são os restos do que algum dia disserem que fomos.

Poesia5
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